São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Setor de serviços prolonga uso do cruzeiro

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Boa parte das lojas especializadas na prestação de serviços vai esticar até o final do mês o uso do cruzeiro real. A idéia é trabalhar com a URV (Unidade Real de Valor) a partir do dia 1º de abril, tomando-se como base o último preço praticado (do dia 31 de março).
Essa é a estratégia adotada por lojas de São Paulo que fazem reparos em produtos eletrônicos, relógios, brinquedos, bonecas, tênis, carrinhos para crianças, entre outros. Muitas delas não "urvizaram" as tabelas de preços porque os fornecedores de peças não o fizeram. Outras, estão desorientadas e preferem aguardar a prática da concorrência antes de fixar preços em URV.
Os serviços para conserto de eletrônicos podem ter mais rapidamente seus preços cotados em URV, informam representantes das oficinas, porque as peças são importadas e os custos já estavam indexados ao dólar. A Enel Eletrônica, instalada no shopping Eldorado, por exemplo, cobra hoje US$ 100 para trocar o cabeçote de um videocassete com quatro cabeças e diz que agora vai cobrar 100 URV por esse serviço.
A dificuldade em "urvizar" os preços dos serviços, diz Nelson Pereira, proprietário, está na mão-de-obra. "Às vezes levamos quatro dias para achar o defeito em um produto. Às vezes demoramos só alguns minutos. Por isso, o custo da mão-de-obra é muito variado". Ontem, a Enel cobrava CR$ 15 mil para consertar telefone sem fio, walkman e gravadores. "Essa é uma base de preços."
A Boris Toys Eletrônica, instalada no shopping Eldorado, especializada em assistência técnica de brinquedos, toca-discos a laser, walkman, entre outros, cotou preços em URV só para o serviço de transcodificação de videocassetes -isso significa a transformação do padrão americano NTSC para o brasileiro PAL-M. "Cobrávamos o equivalente a US$ 30. Agora vamos cobrar 30 URV", afirma Ciro Alfonso, gerente. Quanto aos outros serviços que presta, continua ele, a fixação de preços em URV vai depender dos fornecedores de peças e da concorrência. "Vamos esperar para ver como o mercado vai reagir daqui para frente."
Raphaela Coutinho, proprietária da Trans Baby, especializada em consertos e locação de carrinhos para bebês, instalada no shopping Eldorado, tinha ontem uma única certeza: "vamos trabalhar com URV a partir de 1º de abril nas locações dos carrinhos." Para isso, segundo ela, a loja vai tomar como base o preço em cruzeiros reais e a URV praticados no dia 31 de março. Ontem, o aluguel custava CR$ 2.000 a primeira hora. "Agora, antes de 'urvizar' preços dos serviços cobrados nos reparos dos carrinhos, precisamos saber quanto vão custar as peças em URV."
Alfredo Miguel Vignati, proprietário da Engraxataria Iguatemi, instalada no shopping Iguatemi, diz que o seu maior problema quando adotar a URV será informar todas as manhãs a sua equipe de engraxates quanto cobrar em cruzeiros reais dos clientes. "Eles não vão saber fazer os cálculos." A idéia de Vignati é a de cobrar 1,5 URV pelo serviço. Ontem, engraxar um par de sapatos na sua loja custava CR$ 850,00.
Márcio Salzman, sócio-gerente do Pronto Socorro do Tênis, localizado no shopping Eldorado, é uma das poucas lojas de serviços que já está trabalhando com a URV. "Mas confesso que isso está nos deixando um pouco perdidos." A loja "urvizou" os preços ontem. A reforma total de um par de tênis, conta ele, está custando 26 URV; a troca de nylon, 16 URV; a costura, 10 URV. "Esses preços em URV serão fixos por um ano, se as matérias-primas também tiverem os preços fixos em URV."
Desde ontem, diz ele, o Pronto Socorro do Tênis, tem notado que os clientes querem pagar à vista no ato da entrega do tênis. "É que eles sabem que se esperarem para pagar quando o produto ficar pronto, vão pagar mais caro."

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