São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Níveis de testosterona começam a subir

DAVID DREW ZINGG
EM SÃO PAULO

Bem, Joãozinho, você pode voltar a gastar tuas preciosas URVs com a revista "Esquire". Depois de anos passados vacilando entre a sedução "pornô light" da "Playboy" americana e a caipirice de bons velhos rapazes de seus proprietários sulistas norte-americanos, a revista mudou de mãos. Seus novos donos são gente da família Hearst.
O sr. Hearst original foi quem inspirou o brilhante filme "Cidadão Kane", de Orson Welles. Ao que parece, o DNA jornalístico dos Hearst ainda funciona. Os últimos números de "Esquire" foram tão imbecis e ilegíveis que as pessoas do ramo já estavam apostando que era apenas uma questão de tempo até a revista ser obrigada a fechar.
Mas Deus resolveu intervir. Ele, como vosso tio Dave, deve ter crescido lendo a fantástica "Esquire" original. Como eu, ele deve ter aprendido a enxergar os costumes e as leis sociais do século 20 sob novos ângulos, quando leu autores como Hemingway, Faulkner e Fitzgerald na pioneira revista. À medida que as décadas passavam a "Esquire" foi contratando grandes editores como Clay Felker e Harold Hayes. Juntos, eles inventaram o Novo Jornalismo e uma trupe de novos e brilhantes escritores como Norman Mailer, Gay Talese, Tom Morgan e Tom Wolfe.
Foi a grande época das idéias criativas e ousadas para capas: Sonny Liston de Papai Noel e Andy Warhol desaparecendo num redemoinho de sopa de tomate Campbell.
Agora parece que os bons velhos tempos voltaram para a "Esquire". O pessoal Hearst contratou um dos editores de revistas mais inovadores do ramo, Ed Kosner, para fazer as coisas voltarem aos eixos. Kosner é parte integrante do mundinho hermético das revistas novaiorquinas. Ele vinha editando "New York", o semanário que serviu de modelo para a "Vejinha" –só que a "Vejinha" é insossa como uma canja de galinha sem sal ou pimenta.
Teste tua testosterona
Você está se sentindo pra baixo? Quer sentir-se mais... pra cima? É apenas uma simples questão daquela fantástica substância do amor, a testosterona. No primeiro número da "Esquire" editado por Kosner (março de 94), você descobre algumas coisinhas que não sabia sobre o porquê de não está conseguindo chegar lá com tua Jennifer, Joãozinho.
Nas mulheres, o nível-T atinge o pico duas vezes por mês, antes da ovulação e no final do ciclo. Possivelmente essas flutuações tenham surgido para manter constante teu interesse por ela: você nunca pode saber quando estará tratando com a dama ou com a tigresa.
Algumas outras coisinhas que você teria que ler a "Esqy" para ficar sabendo:
– Nível mais alto de testosterona do dia: no início da manhã.
– Nível mais baixo do dia: fim da tarde e começo da noite.
– Níveis mais altos do ano: outubro.
– Níveis mais baixos (você acaba de sair dessa fase): fevereiro.
– Maior frequência de relações sexuais: entre setembro e novembro.
– Menor frequência: entre janeiro e abril.
– Picos mensais de testosterona nos homens monógamos: por volta da época da ovulação de suas mulheres.
(Como estas fascinantes pesquisas se basearam em pessoas que vivem no hemisfério norte, é possível que não se apliquem às orgias pagãs locais, como o Carnaval.)
Garotas travessas
Se você conseguir dar um pulinho em Nova York antes do dia 10 de abril, poderá ver uma exposição no New Museum of Contemporary Art que é bastante divertida, independentemente de qual das muitas facções sexuais hoje disponíveis no livre mercado você possa fazer parte. Nos últimos tempos, a arte tem mostrado uma tendência a ser um tanto quanto pesada –austera, poder-se-ia dizer. Mas agora chegou esta mostra, chamada "Bad Girls" (Garotas Travessas ou Malcomportadas). É um novo e muito bem-vindo lado "light" de uma nova geração de artistas na casa dos 20 ou dos 30 anos.
Experimente esta, só para se divertir: a curadora, uma certa Marcia Tucker, pede ao espectador que considere o "potencial transgressivo" de uma "lésbica cross-dresser (que se veste de homem) que levanta pesos, tem aparência de Chiquita Banana, pensa como Ruth Bader Guinsburg, fala como Dorothy Parker, tem a coragem de Anita Hill e a perspicácia política de Hillary Clinton.
A peça mais importante de "Bad Girls" se chama "Pink Project" (Projeto Cor-de-Rosa), e é uma idéia maliciosamente simples. É uma enorme exposição de produtos cor-de-rosa, supostamente projetados para serem atraentes às mulheres. Eles variam desde brinquedos para criancinhas até pênis artificiais e são dispostos de modo a parecerem uma paisagem urbana feita de carne íntima.
A exposição contém citações de garotas malcomportadas famosas: aquela jóia de Bette Davis: "Quando um homem dá sua opinião, ele é um homem. Quando uma mulher dá sua opinião, ela é metida a besta".
A melhor citação vem daquela rainha das garotas malcomportadas que foi Mae West: "Entre dois males eu sempre opto por aquele que ainda não experimentei".
Me bate, meu bem
Viajar faz bem para a gente, nos educa. Considerem minha última viagem à Europa, por exemplo. Tive a oportunidade de aprender um monte de novos termos amorosos para experimentar com as Jennifers de Sampa.
"Mon chou", "mon lapin", "mon rat" são os modos franceses de carinhosamente chamar seus amantes de repolho, coelho e rato. Acho que consigo entender o coelho –mas se é assim que eles chamam seus amigos, imaginem só o que não devem chamar seus inimigos.
"My little pumpkin" –minha pequena abóbora– é o que dizem nas comédias amorosas britânicas, mas é bom que ninguém ouse me chamar assim.
"Due cuori e una capanna" é o que os amantes italianos antiquados pensavam que igualava felicidade. Quer dizer "dois corações e uma cabana". Isso era nos bons velhos tempos quando as pessoas sonhavam em ganhar mil liras por mês. Isso equivale a cerca de Cr$ 350 nas URVs atuais. Hoje, o único jeito de conseguir o que você quer de uma Jennifer italiana é com uma casa com piscina no jardim de cobertura.
Mas quando se trata de palavras, os amáveis alemães são os campeões. A grande vencedora das novas palavras que incorporei a meu vocabulário é "Abschleppen". Não consigo pronunciá-la, mas ela significa "seduzir". Literalmente, quer dizer arrastar. Esta abordagem de homem-das-cavernas-com-porrete-na-mão é considerada o ápice da sutileza nos altos círculos teutônicos.
Listagem de Schindler
Enquanto "A Lista de Schindler" obriga enormes platéias pelo mundo afora a fazer exames de consciência, a Listagem de Schindler está provocando ultraje em Hollywood. A Listagem de Schindler é um anúncio imobiliário de grande mau gosto que saiu publicado num jornal local esta semana.
O homem que está vendendo a casa é um certo Peter Schindler.
Não teve graça.

Tradução de Clara Allain

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