São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Candidatura ou coroação?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Todas as condições que o ministro Fernando Henrique Cardoso estaria impondo para deixar a Fazenda e disputar a Presidência reduzem-se, na verdade, a uma só: quais são as suas efetivas chances de triunfo?
Ou, em outras palavras, o ministro quer saber se vai trocar os 10 meses que lhe restam na Fazenda por quatro anos na Presidência ou por nada.
Tudo o mais é secundário, absolutamente secundário. A questão do seu substituto, por exemplo. Deu-se demasiada importância ao fato de o presidente Itamar Franco ter dito que seria ele e não FHC quem indicaria o novo ministro. É óbvio. Cabe ao chefe do governo nomear e demitir ministros e mesmo um presidente tão cheio de dificuldades para decidir, como o é Itamar, preserva exclusivamente em suas mãos a caneta que nomeia e demite.
Além disso, Itamar não vai querer complicar a vida de Fernando Henrique, nomeando para a Fazenda alguém incompatível com quem é não apenas o atual ministro, mas também o único candidato com que Itamar pode contar, se o governo quiser ter algum.
Mais: FHC já se convenceu (ou sempre esteve convencido) de que a fase final do plano de estabilização econômica dispensa a sua presença no ministério. Aliás, o próprio pessoal do PSDB tem dito que ele será mais útil no Congresso, como senador, e nos palanques, como candidato, do que na Fazenda.
A outra suposta ou real exigência de FHC (não ouvir ataques pessoais pela eventual aliança com o PFL) tampouco resiste à lógica política elementar. Quem é que pode garantir que, consumada a aliança, os adversários dela, como Jutahy Magalhães e Waldir Pires, não saiam por aí disparando contra FHC? O que se pode fazer? Censurar suas eventuais entrevistas aos meios de comunicação? Ridículo, não?
No fundo, no fundo, FHC chegou à mesma situação em que se encontra o governador Antônio Carlos Magalhães, que repete sempre, brincando, que quer ser presidente, mas não quer ser candidato. Ou seja, gostaria de ser aclamado presidente, sem precisar passar pelo tormento das urnas. Parece difícil, mas, enfim, está em curso a revisão constitucional que pode perfeitamente trocar a eleição pela coroação.

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