São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 1994
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Macacos fazem a cabeça dos americanos

ALAN J. FRIEDMAN
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

"Os macacos provavelmente vão querer subir em vocês", disse nossa guia, Janet Israel. "Às vezes eles tentam tirar coisas soltas dos seus bolsos. E é bom tomar cuidado com os óculos também. Eles vão tentar tirá-los", avisou.
Quando nossa lancha estreita aproximou-se das margens do rio, algumas formas escuras que estavam nas árvores começaram a se mexer. Depois vimos macacos correndo pelo chão, em direção ao barco. Faltava pouco tempo para a hora da refeição dos habitantes da Selva dos Macacos, a cerca de 16 km do centro de Manaus.
A floresta amazônica se erguia alta acima das margens arenosas do igarapé Tarumã Açu, que deságua no rio Negro. Quando a lancha parou nas margens, pelo menos uma dúzia de macacos já havia chegado bem perto e dezenas de outros desciam das árvores. Saímos do barco em meio à multidão de cebos, cuatás e vários outros tipos de macacos. Imediatamente cinco ou seis macacos peludos e cinzentos entraram na lancha e começaram a examinar tudo.
Um cuatá preto subiu pela perna de minha mulher, Mickey, enlaçou o pescoço dela com seus longos braços, revistou seus bolsos e ficou pendurado nela. Janet Israel nos disse que era uma macaca e que seu nome era Emma. Ela estava vivendo na Selva dos Macacos há mais de um ano e já se tornara uma espécie de animal de estimação do lugar. Como todos os outros macacos desta parte da selva, Emma era fêmea. Os machos, mais rebeldes, e os recém-chegados de ambos os sexos são mantidos numa ilha próxima.
Começamos a caminhar e eu senti algo subir pelas minhas costas e acomodar-se em cima de meu chapéu de palha. Minúsculos dedinhos de uma macaquinha marrom se esticaram para pegar meus óculos, mas segurei firme neles e no chapéu, e ela pulou para o chão.
Janet Israel nos apontou vários macacos de espécies mais tímidas nas árvores, incluindo um belo uacari, de pêlo branco, rosto vermelho e testa pelada.
Os 150 macacos da Selva dos Macacos no Ecopark, resgatados de locais que sofreram queimadas ou foram inundados por projetos de desenvolvimento, fazem parte de um projeto de reabilitação. Muitos deles são órfãos. Recebem tratamento médico e passam algum tempo aclimatando-se antes de serem soltos na floresta. Com a exceção de alguns macacos muito novos ou doentes, que são mantidos numa enfermaria, eles ficam livres para perambular pela floresta. Mas costumam voltar à Selva dos Macacos por causa da alimentação regular que lhes é oferecida.
O Ecopark é uma reserva de 18 mil m2, de propriedade particular, operado pela entidade sem fins lucrativos Fundação da Floresta Amazônica Viva, sediada em Manaus. Foi aberto ao público em 1991, ainda em fase de implantação com a função dupla de educação e conservação. Um aquário e um jardim botânico estão em fase de construção, mas o orquidário já está pronto. O Ecopark possui também um santuário para pássaros, um restaurante na forma de uma enorme maloca indígena, capaz de acomodar 250 pessoas, e bangalôs para alojar visitantes que queiram passar a noite no local.
Uma placa na entrada da Selva dos Macacos avisa: "Não alimente nem toque nos animais". O fato de termos sido abordados pelos macacos pode ter sido incomum, causado talvez pela ausência de outros visitantes naquele dia e porque chegamos justamente no horário de sua alimentação.
Quando a equipe do parque iniciou a alimentação dos macacos, todos eles, incluindo Emma, se afastaram e foram em busca dos baldes de comida. A comida que recebem é balanceada com frutas tropicais, sementes e raízes.
Seguimos por uma caminhada pela floresta tropical, nossa meta original. O funcionário do escritório de turismo de nosso hotel, o Tropical, achava que pessoas da cidade grande, como nós, não iríamos querer sujar nossos tênis novos. Rejeitamos repetidamente os convites para passeios de barco no "encontro das águas", onde o rio Solimões, de águas marrons, se mistura com o rio Negro, de águas pretas. Queríamos sentir a emoção de estarmos dentro da legítima floresta amazônica. Finalmente o homem nos sugeriu o Ecopark.
Uma excursão de meio dia (uma visita à Selva dos Macados e uma caminhada pela floresta, acompanhados por um guia) custaria US$ 25 (CR$ 17,9 mil) por pessoa, incluindo o transporte por barco. Fizemos uma reserva para o dia seguinte. Meia hora depois de deixarmos o cais do Tropical, estávamos cercados por macacos.

Tradução de Clara Allain

Continua na pág. 6-7

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