São Paulo, sábado, 19 de março de 1994
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Perigo ainda ronda civis apesar do cessar-fogo

DA "REUTER"

Sevko Spahic apostou no cessar-fogo de Sarajevo e levou uma bala na cabeça. O ex-motorista de caminhão, de 53 anos, plantava cebolas do lado de fora de seu prédio no subúrbio de Dobrinja (zona oeste), quarta-feira, quando um franco-atirador sérvio o atingiu.
"Eu pensei: 'oh, Deus, não, não eu, não agora que a guerra está quase terminada'; pareceu estúpido ser ferido durante um cessar-fogo", disse Spahic numa cama do hospital. A bala o atingiu logo abaixo da orelha esquerda e saiu por uma das narinas.
Com o rosto inchado e a cabeça envolvida em ataduras, Spahic contou a jornalistas como o general britânico Michael Rose, comandante das forças de paz da ONU na Bósnia, visitou Dobrinja há menos de uma semana e exortou os moradores a apostarem na paz. "Eu apertei sua mão e ele disse: 'Tudo estará OK, haverá paz'. O intérprete mostrou ao general o lugar exato de onde os sérvios estavam atirando em nós. O general deveria ter ido lá para advertir os sérvios e remover o ninho dos franco-atiradores", disse.
Com o cessar-fogo entrando em sua sexta semana, o saldo diário de vítimas da guerra em Sarajevo reduziu-se bastante, especialmente entre os civis. A paz parece mais próxima do que em qualquer outro momento nesses 23 meses de brutal guerra étnica.
Mesmo ao voltar a uma aparência de normalidade, porém, a capital bósnia ainda é uma cidade sulcada de trincheiras, ocupadas por milhares de soldados. "Os bondes estão circulando e pode não haver mais bombardeio, mas Sarajevo ainda está sitiada e é perigosa. Temos pessoas feridas por franco-atiradores todo dia", disse o médico Redzep Dizdarevic. O governo bósnio estima que 10 mil pessoas morreram e 55 mil foram feridas na cidade desde o início da guerra.

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