São Paulo, domingo, 27 de março de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pessoal de Clinton tenta mudar investigador

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Dois dos mais próximos assessores do presidente dos EUA, Bill Clinton, sugeriram a substituição de um advogado contratado por uma agência federal para apurar o caso Whitewater por acharem que ele faz oposição ao governo.
A acusação apareceu na edição de ontem do jornal "The Washington Post". É a primeira denúncia de ação específica da Casa Branca que pode ser caracterizada como tentativa de obstrução da Justiça no caso.
Segundo o "Post", George Stephanopoulos e Harold Ickes telefonaram ao secretário-assistente do Tesouro, Roger Altman, para reclamar da contratação de Jay Stephens para investigar o caso.
Stephens é filiado ao Partido Republicano, de oposição. Há um ano ele foi demitido da promotoria pública federal em Washington. Ficou famoso em 1989 por ter condenado por tráfico de drogas o ex-prefeito Marion Barry.
A Casa Branca divulgou nota oficial na qual afirma que Stephanopoulos e Ickes dizem não ter lembrança de jamais terem pedido a Altman para revogar a decisão de contratar Stephens, que continua no caso.
O promotor especial do caso Whitewater, Robert Fiske, intimou ontem mais um auxiliar de Clinton para depor a um júri federal. O chefe de pessoal da Casa Branca, John Podesta, é o nono assessor do presidente intimado a depor.
As duas notícias mostram que, apesar do seu bom desempenho na entrevista coletiva de quinta-feira e dos novos documentos que entregou à Justiça, Clinton ainda está longe de ter-se safado dos problemas do caso Whitewater.
O presidente iniciou ontem mais uma temporada de férias, a terceira desde que assumiu o poder, há 15 meses. Ele foi a Dallas, Texas (sudoeste do país), para o casamento de seu meio-irmão, Roger.
Depois, Clinton e família seguem para San Diego, Califórnia (Costa Oeste), onde descansam uma semana em casa de amigos. Clinton tirou 11 dias de férias em agosto de 1993 e uma semana em janeiro deste ano.
O ex-sócio de Clinton na construtora Whitewater, James McDougal, pediu ontem desculpas a ele. Disse agora acreditar que, ao contrário do que vinha alegando, o presidente de fato investiu mais do que US$ 9 mil no negócio.
McDougal afirmou ter-se convencido de que estava errado depois de ter lido as declarações de Imposto de Renda do casal Clinton referentes aos anos de 1978 e 1979, reveladas ao público na sexta-feira.
Segundo as declarações, Bill e Hillary Clinton colocaram US$ 47 mil em Whitewater e perderam tudo. Até quinta-feira passada, o presidente dizia ter perdido US$ 69 mil na Whitewater.
Todas essas quantias são relativamente pequenas e é difícil acreditar que por causa delas os EUA estejam à beira de uma crise institucional, com o risco de o presidente ser obrigado a depor à Justiça e ao Congresso.
Mas reportagem publicada na edição desta semana da revista "The New Republic" insinua que muito mais dinheiro do que o até agora mencionado pode estar envolvido no caso Whitewater.
O autor do texto, L.J. Davis, documenta ligações suspeitas nos anos 80 entre o casal Clinton e a família Stephens, dona do único grande banco de investimentos dos EUA sediado fora de Nova York.
Negócios dos Stephens envolvendo milhões de dólares, muitos deles de legalidade duvidosa, foram administrados pelo escritório de advocacia Rose Law Firm, ao qual Hillary Clinton foi associada até 1992.
Davis, que foi agredido em Little Rock, Arkansas, Estado natal do presidente, quando fazia a reportagem, também escreve sobre contrato de US$ 30 milhões concedido pelo então governador Clinton a Don Lasater, operador financeiro que passou 30 meses preso por tráfico de cocaína.

Texto Anterior: O magnata das comunicações
Próximo Texto: OEA tenta se revigorar com novo chefe
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.