São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lopes quer acordo para conter preços

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Francisco Lopes, da consultoria Macrométrica, acha que o governo precisará aplicar algum tipo de controle de preços na entrada da nova moeda, o real. Avisando desde logo que considera congelamento e tabelamento as piores soluções, Lopes propõe que os níveis de preços sejam acertados em câmaras setoriais.
Lopes, que está entre os maiores especialistas em inflação, acha muito grande o risco de uma forte alta de preços no lançamento do real. Isso ocorreria tanto por especulação quanto por necessidade de corrigir preços atrasados, como, aliás, vem acontecendo nesta fase da URV.
Informações de diversos estudos indicam que a inflação em URV, no seu primeiro mês de implantação, variou de 1,75% a 3,4% –o que é excessivo para o começo de uma nova moeda. E houve setores que registraram aumentos de preço, em URV, superiores a 30%. Isso seria fatal na introdução do real, pois essa inflação restabeleceria a reivindicação pela volta da indexação.
Há três tipos de política de preços: a liberal, a intervencionista e a negociada. A liberal é a que foi aplicada na Argentina, no Plano Cavallo –o governo reduziu as tarifas de importação a quase zero. O país foi inundado de produtos estrangeiros a preços baixos, o que impediu qualquer tentativa de especulação da indústria local.
Francisco Lopes acha ruim essa solução porque, se impede especulação, pode submeter a indústria local a uma concorrência desigual e predatória. Países como a China, onde as empresas pagam salários baixíssimos e não têm encargos sociais, produzem a preços com os quais é impossível concorrer. Há também países que concedem fortes subsídios à sua indústria, exatamente para baratear exportações.
A política intervencionista foi a base do plano de estabilização do México. No primeiro momento aplicou-se um congelamento. Depois, passou-se para a pré-fixação teoricamente negociada. Empresas e governos reuniam-se em câmaras setorias para acertar preços a serem praticados nos 30 dias seguintes. Na prática, o governo, autoritário, acabava impondo o preço. E combinava isso com uma redução controlada das tarifas de importação.
Dificilmente funcionaria no Brasil. Congelamento e tabelamento (que se aplica na pré-fixação) seriam contestados na Justiça e provavelmente derrubados. Num regime de democracia plena, que está longe de ser o caso mexicano, é quase impossível aplicar tal intervenção sobre a economia.
Resta a política negociada. Com a ameaça de reduzir o imposto de importação, o governo poderia induzir as empresas a aceitarem negociar níveis de preços em câmaras setoriais. Isso poderia ser combinado com redução de imposto de importação para determinados produtos, especialmente aqueles controlados por oligopólios.
Para Lopes, essa é a melhor solução. O economista acha que essa política deveria ser aplicada nos primeiros três a seis meses do real para garantir um padrão de estabilidade. Depois, a economia se ajeitaria pelo mercado.
Essa negociação de preços em URV é o que vem fazendo, empiricamente, José Milton Dallari, assessor especial do Ministério da Fazenda. Mas precisaria ser institucionalizada para funcionar em toda a economia.

Texto Anterior: Aliados tentam driblar grupo de Juiz de Fora
Próximo Texto: No RS, 66% já converteram
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.