São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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D. Aloísio lava pés de 12 presos no Ceará

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

D. Aloísio lava pés de12 presos no Ceará
O cardeal-arcebispo de Fortaleza, d. Aloísio Lorscheider, retornou ontem ao Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), em Eusébio (28 km sul de Fortaleza), onde celebrou missa para cerca de 150 detentos.
A cerimônia ocorreu no mesmo auditório onde, no dia 15 passado, d. Aloísio e mais 11 pessoas foram feitos reféns de 14 detentos.
Nenhum dos 14 presos que participaram da ação de sequestro a d. Aloísio participou da missa.
Segundo o diretor do IPPS, Raimundo Nonato Alencar, 12 deles estão de "castigo", confinados em celas de segurança máxima. Os outros dois morreram em consequência de tiroteios com a polícia, quando eram recapturados.
Durante a celebração, d. Aloísio repetiu a cena bíblica de Jesus com seus apóstolos e lavou os pés de 12 detentos que ficaram junto dele, no altar improvisado.
"Esta cena simboliza o ensinamento do evangelho de São Mateus que diz: Estive doente e me acolheste. Estive preso e me visitaste", disse d. Aloísio.
A visita de d. Aloísio é a repetição de um ritual que acontece desde 1974, quando ele vai ao presídio celebrar a cerimônia conhecida como "missa do lava-pés".
Para d. Aloísio, a visita serviu também para demonstrar publicamente que ele não guarda rancor dos presos que o sequestraram. "Sem querer justificá-los, o que os presos fizeram foi lutar pelo justo direito à liberdade", disse d. Aloísio.
Nenhum dos outros 11 reféns participou da cerimônia. Ao final da missa, um representante dos detentos leu uma carta em que pede desculpa a d. Aloísio pelo ocorrido.
O preso Antônio Ednaldo da Silva, 26, denunciou que sua pena havia terminado há seis meses e que continuava preso por falta de acompanhamento jurídico.
O diretor do IPPS disse que muitos presos poderiam estar na situação de Silva "porque o IPPS só dispõe de seis advogados para 640 presos".

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