São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
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Carlão abre a volta dos "italianos" e pede sossego

SÉRGIO KRASELIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlão abre a volta dos 'italianos' e pede sossego
O atacante Carlão está de volta ao Brasil. Com a eliminação de sua equipe, o Maxicono/Parma, nas quartas-de-final da Liga Italiana de Vôlei, o capitão da seleção brasileira é o primeiro dos cinco jogadores campeões olímpicos a retornar ao país.
Com apenas dez dias para repousar e rever seus familiares em Fortaleza, Ceará, o atacante diz que pretende ganhar um bronzeado antes de se apresentar no Rio de Janeiro ao técnico José Roberto Guimarães, no próximo dia 12.
Até lá, Carlão, que completa 29 anos no dia 20 deste mês, pretende jogar algumas partidas de vôlei de praia e beber muita água de coco. Com 90 kg (três a menos que seu peso ideal), Carlão, que há sete meses não recebe seu salário, ainda não sabe se volta definitivamente para o vôlei brasileiro.
"Quero ver o rumo que as negociações vão tomar", despista o jogador, que falou à Folha por telefone com exclusividade antes de embarcar para o Brasil, onde chega hoje às 17h30, vindo de Milão.
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Folha - Depois de disputar a Liga Italiana de Vôlei você volta para o Brasil e, dentro de poucos dias, inicia a preparação para a Liga Mundial. Quais são as suas expectativas?
Carlão - Bem, em primeiro lugar quero ver minha família em Fortaleza. Vou para a casa dos meus pais e devo ficar lá alguns dias. Só então me junto à seleção no Rio. Mas antes quero chegar para saber o que vai acontecer.
Folha - Os jogadores convocados pelo técnico José Roberto Guimarães vêm treinando forte. Como você está fisicamente?
Carlão - Estou bem. Há uma semana que não faço nada, mas tenho trabalhado muito na arrumação das malas. Afinal, volto com mulher, crianças, papagaio e cachorro (risos). Mas a idéia é continuar a preparação física em Fortaleza e bater uma bola na praia. Na Itália perdi muito peso por causa do campeonato. Normalmente peso 93 kg e estou com 90 kg. O mais importante é que vou rever minha família depois de dois anos sem pisar em Fortaleza. Mas venho de um jogo pelas quartas-de-final contra o Ravenna que durou cinco sets, com mais de três horas. Graças a Deus estou sem nenhum problema de contusão.
Folha - O Brasil joga contra a Bulgária, Grécia e Estados Unidos na fase de classificação da Liga Mundial. Destas seleções, qual lhe preocupa mais?
Carlão - A Bulgária sempre teve um time bom, mas os búlgaros estão fora do circuito mundial desde 1990. Mas eles têm jogadores fortes, inclusive alguns que jogam na Itália. Não vejo a Bulgária jogar há muito tempo, mas acho que ela é a equipe mais forte. Já os Estados Unidos têm sempre um time chato, mas agora estão com time novo. Mas isso é relativo. A Grécia não tem uma grande tradição no vôlei, mas conheço alguns jogadores e a seleção grega não teve muitas mudanças. De qualquer maneira, acho que vão ser jogos difíceis. Porém, se o Zé Roberto fizer o que ele pretende, ou seja, juntar todo mundo para jogar essa fase de classificação, vamos estar bem para a Liga Mundial.
Folha - Dos times que disputam as semifinais da Liga Italiana, em qual deles você aposta para ser o campeão da temporada?
Carlão - É difícil falar. Playoff é um campeonato diferente. Vai ganhar quem tiver maior preparo físico e psicológico, aquele que se desgastou menos durante o torneio. Todos são candidatos ao título. Só vou ver o Sisley contra o Ravenna e o Milano contra o Modena. Tudo o que posso dizer é que pelo menos um brasileiro vai ser campeão. Acho que os quatro times estão no mesmo nível. Torço para que aquele que jogar melhor ganhe. Já telefonei para Giovane, Negrão, Maurício e Tande e desejei que todos joguem bem e que vença o melhor.
Folha - E os planos para a seleção brasileira?
Carlão - Estou muito a fim de jogar novamente pela seleção. Mas, como eu disse, quero dar um tempo para repousar. Nos últimos anos venho jogando sempre e treinando muito. Só quero sossegar um pouco em Fortaleza e depois voltar com gás para a seleção. Além, é claro, de pegar uma cor. Estou pálido, amarelo (risos).
Folha - Há uma tentativa por parte da Confederação Brasileira de Vôlei de trazer definitivamente para o Brasil você e os outros quatro jogadores que atuam na Itália. Como estão estas negociações?
Carlão - Tem se falado muito nisso. Eu estou voltando agora para o Brasil e assim que chegar vou procurar saber até que ponto estas negociações avançaram. Já conversamos muito e agora é esperar para ver o que vai acontecer.
Folha - Com a "Operação Mãos Limpas" deflagrada pelo Legislativo da Itália, o vôlei italiano se viu envolvido numa série de escândalos, principalmente com a lavagem de dólares. Como ficou a situação do vôlei no país?
Carlão - Bem, este ano tivemos muitas dificuldades. A série de escândalos afetou não só o vôlei, mas todo o esporte. Os mais atingidos foram os clubes de futebol. Não acho que vai haver uma debandada de estrangeiros, mas os salários devem cair bastante. Não vai ser mais a loucura que era.
Folha - De que maneira estas investigações afetaram a equipe do Maxicono?
Carlão - Elas influenciaram muito o rendimento da nossa equipe. Foram muitos problemas, o dono do time está envolvido com os escândalos e o time não recebe pagamento há sete meses. O clube agora vai vender o Gianni, o Bracci e o Gravinna para acertar as contas. Ninguém recebeu nada este ano, algo que nunca aconteceu. Foi difícil. Mas contratei um advogado para me representar junto ao clube e cuidar dos meus interesses. Mas eles garantiram que vão pagar todo mundo.
Folha - Você acha que a Federação Internacional de Vôlei deveria intervir neste caso?
Carlão - Acho que o apoio da Federação para os jogadores é importante. Mas acredito que até maio esta situação se resolva.

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