São Paulo, sexta-feira, 1 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

África do Sul decreta emergência em Natal

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

África doSul decreta emergência em Natal
O presidente da África do Sul, Frederik de Klerk, decretou estado de emergência na Província de Natal e no território de KwaZulu, na tentativa de conter a violência política que já deixou mais de 300 mortos desde o início de março.
A iniciativa foi elogiada por Nelson Mandela, do Congresso Nacional Africano (CNA), e condenada por Mangosuthu Buthelezi, do Partido da Liberdade Inkatha.
"O estado de emergência conta com meu sincero apoio", disse Mandela, considerado favorito para suceder De Klerk e tornar-se o primeiro presidente negro do país após as eleições de abril.
Buthelezi, também chefe do governo local de KwaZulu, disse que os zulus que habitam o território veriam "como uma invasão" qualquer tentativa do Exército de reforçar as tropas na região.
O Inkatha está boicotando as eleições e defende autonomia para os bantustões, territórios que a África do Sul declarou "independentes" na época do apartheid (regime de segregação racial). Os racistas brancos de extrema direita apóiam essa posição.
Ao anunciar as medidas, De Klerk reafirmou que as eleições multirraciais –as primeiras no país em que negros e brancos terão igual direito a voto– ocorrerão entre 26 e 28 de abril. Buthelezi voltou a defender um adiamento.
"Não há necessidade de pânico", disse o presidente ao anunciar o estado de emergência. Segundo ele, as medidas excepcionais serão revogadas assim que a situação se normalizar.
Está marcada para a próxima quarta-feira uma reunião entre De Klerk, Mandela, Buthelezi e o rei do grupo étnico zulu, Goodwill Zwelethini, para discutir maneiras de conter a violência. Assim como Buthelezi, Zwelethini defende autonomia para os cerca de 8,5 milhões de zulus (20% da população sul-africana, de 38 milhões).
É a quarta vez que o estado de emergência é adotado na África do Sul –nas ocasiões anteriores, porém, o objetivo do governo era conter rebeliões dos negros e evitar o fim do apartheid.
Mandela disse que "a polícia de KwaZulu será confinada a seus quartéis" e que o Exército vai assumir o controle do território. Segundo ele, isso deverá acontecer até a próxima terça-feira.
Carros blindados do Exército patrulharam ontem à tarde as favelas de KwaMashu, nos arredores de Durban (capital de Natal), palco de alguns dos incidentes mais violentos entre negros partidários dos líderes zulus e militantes do CNA.
Mandela disse que impediu a polícia de entrar na sede do CNA em Johannesburgo para investigar o confronto da segunda-feira, em que oito zulus foram mortos.
Segundo ele, a polícia não foi imparcial ao permitir que a passeata de cerca de 5.000 zulus, muitos deles armados, se aproximasse da sede do CNA. Os seguranças da organização teriam disparado para impedir a invasão do prédio.

Texto Anterior: Protesto reúne mais de 1 milhão na Grécia
Próximo Texto: Liga Norte rejeita Berlusconi como premiê
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.