São Paulo, quinta-feira, 7 de abril de 1994 |
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"Não me lembrei de nada, nem de rezar"
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS A paciente Tomázia Giorgina da Rosa, 80, se preparava para dormir quando ouviu os primeiros "gritos de desespero" no hospital incendiado.Os parentes só a localizaram pela manhã, no Hospital Celso Ramos, para onde foram removidos 67 pacientes. "Ficamos desesperados até conseguir encontrá-la", afirmou a neta, Anísia de Oliveira, 26. Pequena e magrinha, Tomázia conta que ainda conseguiu pegar um vestido antes de ser carregada por um bombeiro. Ontem, mais calma, ela disse que passou horas de "muito medo". A seguir, a entrevista dela à Folha: Folha – Como foi que a senhora se deu conta do que estava acontecendo? Tomázia – Eu ouvi gritos, mas não sabia o que era. Decerto ia morrer queimada, porque as outras correram, mas eu não consegui. Até que veio um homem, acho que era um bombeiro, porque estava fardado, e disse que tudo estava "pegando fogo". Por causa do barulho, não entendi. Só tive noção ao ver as chamas. Folha – O que aconteceu então? Tomázia – Fui levada para fora e fiquei perdida. Um homem me carregou no colo. Me sentaram numa esquina e fiquei lá sozinha, chorando e vendo tudo. O que eu podia fazer? Até que um carro parou e um homem me disse: "Não vó, a senhora não pode ficar aqui." Folha – A senhora não fazia a menor idéia de quem era a pessoa? Tomázia – Não. Não tenho a menor idéia de quem me salvou e me trouxe a esse hospital. De qualquer forma, só posso agradecer. Perdi tudo o que tinha, menos esse vestido, que me ocorreu de pegar. Não me lembrei de mais nada, nem de rezar. Estávamos todos desesperados.(Silvia Quevedo) Texto Anterior: Primo de Mário Covas morre baleado Próximo Texto: Hospital sabia do perigo Índice |
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