São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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Biscaia se recusa a fazer perícia na lista

FERNANDA DA ESCÓSSIA; RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O procurador-geral de Justiça do Rio, Antonio Carlos Biscaia, disse que os documentos apreendidos no escritório do bicheiro Castor de Andrade serão periciados somente em juízo –o que só pode acontecer depois do início do processo penal.
O procurador-geral se nega a pedir uma perícia agora porque se diz convencido de sua autenticidade.
Biscaia e seu chefe de gabinete, Antônio José Moreira, –os dois principais responsáveis pela investigação da lista do bicho– entraram ontem em contradição sobre a presença do governador Nilo Batista e do prefeito César Maia na documentação apreendida.
Biscaia, em entrevista coletiva, reafirmou ontem que os nomes de Nilo e de Maia aparecem no livro-caixa dos bicheiros.
Moreira deu outra informação: "Não estão no livro-caixa, mas em folhas que pertencem a um livro de contribuição de campanhas políticas." Ele disse que as informações das folhas estão datilografadas.
"Folhas datilografadas podem ser encadernadas em livro", afirmou o chefe de gabinete.
Biscaia demorou a responder sobre a presença de Nilo e Maia nos documentos apreendidos. Apenas confirmou aos repórteres que os nomes estavam no livro-caixa: "Estão", respondeu Biscaia.
O procurador-geral afirmou "desconhecer" a informação, publicada ontem pelo jornalista Janio de Freitas na Folha, de que os nomes do governador e do prefeito do Rio estariam em folhas soltas, e não no principal livro-caixa, e de que as informações sobre Nilo estariam rasuradas.
"O governador aparece uma vez como N.B., com o Batista completado a mão, a lápis. Já estava assim quando o material foi encontrado pelo Ministério Público", declarou Biscaia.
"Estão querendo desmoralizar o trabalho do Ministério Público", declarou Biscaia. Ele disse que a tentativa de desmoralização é a terceira fase do trabalho da contravenção no Rio, depois da corrupção e das ameaças.
"Não conseguiram me subornar nem me intimidar, então tentam me desmoralizar." Ele afirmou que está sendo ameaçado por envolvidos no escândalo, mas não revelou nomes nem o teor das ameaças.
Os nomes dos políticos citados na lista de Castor já foram enviados à Procuradoria Regional Eleitoral, disse Biscaia. A Procuradoria é agora responsável pela investigação e por possíveis punições aos políticos que receberam doações de campanha.
O MP Estadual continua investigando o pagamento de propinas a funcionários estaduais, juízes e policiais civis e militares.
Procuradores-gerais de Justiça em 11 Estados brasileiros estiveram ontem na Procuradoria. Eles foram prestar "apoio e aplauso" a Biscaia nas investigações, disse o presidente do Conselho Nacional de Procuradores, Castellar Modesto Guimarães Filho.

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