São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994 |
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Afogando em números O Secretário de Política Econômica, Winston Fritsch, reafirmou em entrevista concedida à Folha a projeção de inflação estável com que trabalha o governo, ainda entre 43% e 44%. Esse esforço coincide com a divulgação, pela Fipe, de uma inflação na primeira quadrissemana de abril de 43,17%, ou seja, 1,2% acima da inflação de março. A instituição já prevê alta de preços na casa dos 45% em abril, devido basicamente a puxadas nos preços dos alimentos, do vestuário e das tarifas públicas. Os vários índices de inflação continuam exibindo discrepâncias significativas entre si. No caso do IPCA, calculado pelo IBGE, o item alimentação mostrou forte redução no início de abril, caindo de 44,39% para 41,94%. Vestuário teve uma alta pequena. Ou seja, os mesmos itens que explicam o salto no número medido pela Fipe sugerem desaceleração no índice do IBGE. Se um sobe e o outro cai, na média os índices sinalizam de fato uma inflação estável. A princípio têm portanto razão as autoridades econômicas que insistem na manutenção de suas estimativas de inflação (que é o que importa para a determinação da URV, calculada como média de três índices). Entretanto, essa gangorra que parece equilibrar altas e baixas nos vários índices nada mais tem sido que uma coincidência. À medida que o mesmo fenômeno pode ter medidas tão discrepantes, aumenta o risco, para quem corrige seus contratos pela média, de a própria média converter-se numa ficção estatística menos confiável. O ideal seria oscilarem os vários índices com menos violência. Quanto mais erráticas essas medidas, maiores os riscos de quem por elas se fia. Afinal, afogou-se aquele estatístico amador que, sem saber nadar, julgava seguro banhar-se num rio que, na média, tinha apenas um metro de profundidade. Texto Anterior: Educação laica Próximo Texto: Polarização Índice |
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