São Paulo, quinta-feira, 14 de abril de 1994
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É compreensível o espanto

TASSO JEREISSATI

Tanto Israel quanto a Espanha, quando confrontados com uma situação de emergência representada por uma inflação galopante, que como se sabe gera as maiores injustiças sociais, foram capazes de estabelecer um pacto que tornou possível a superação desse grave problema, verdadeiro câncer das sociedades modernas.
Não há como menosprezar os males que a inflação pode causar a uma sociedade moderna. Os pobres ficam mais pobres, e a sociedade toda perde o estímulo ao esforço produtivo.
Há uma obra em que a sociedade tem que ser capaz de lutar pela sua sobrevivência, acima das mesquinhas paixões eventuais e transitórias. Chamou-se a isso de governabilidade. Nós, do PSDB, sempre tivemos presente que nosso maior compromisso era e continua a ser com os objetivos maiores da nacionalidade, e não seria o temor de sermos mal interpretados que nos levaria ao pecado maior da omissão.
Ao longo dos anos, buscamos alianças que às vezes pareciam, numa visão superficial, descabidas. Corremos o risco de sermos mal interpretados, mas sempre nos negamos a, por temor à crítica, deixarmos de explorar todas as possibilidades de darmos ao país a oportunidade de encontrar o seu melhor caminho.
Não tem o PSDB a pretensão de deter o monopólio da seriedade e da eficiência na administração da coisa pública. Mas ninguém contesta que a lógica do PSDB é outra que não a da política clientelista e fisiológica. Esta nunca foi nossa marca. Podemos até mesmo ser tachados de ingênuos ou de ilusionistas por conta de nossa busca de firmar aliança em torno de um programa social-democrata. Se conseguirmos isso, estaremos dando um outro salto nas relações políticas brasileiras.
Tem razão o professor José Alvaro Moisés quando diz que uma aliança política tem que ser feita em torno de um programa claro com metas objetivas e forma de persegui-las. Os acordos não podem ser feitos em torno de uma proposta genérica na base da retórica bonita e fácil. De nada vale prometer "escola para todas as crianças" ou "vamos erradicar a miséria". É preciso dizer como isso será feito, com que parceria?
Ora, se não existissem tantos obstáculos, os problemas brasileiros já estariam resolvidos. A falta de compreensão sobre o sentido dessas alianças –se são à direita ou à esquerda (conceito já ultrapassado, que já se torna preconceito)– tem sido um empecilho para que se obtenha consenso em torno de uma proposta de mudanças –aliás uma forma de conservadorismo pela inércia.
É importante também que cada candidato apresente seu programa para que o eleitor possa diferenciá-los. É claro que, para mudar o Brasil, o próximo governo terá de ferir privilégios. O PSDB está disposto a isso. Nossos eventuais parceiros vão conhecer nossa proposta e terão direito à escolha de fazer ou não a aliança em torno deste programa.
O que não se pode é perder as esperanças de mudar a forma de se fazer política no Brasil. Não se pode esquecer que o fisiologismo e o clientelismo que condenamos tanto têm duas pontas: a do que pede o benefício, mas também a de quem concede, que tem responsabilidade muito maior. Afinal, é quem assina e institucionaliza o erro. E o PSDB nunca foi o avalista neste equívoco.

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