São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Índios dão auxílio médico a aldeias

ANDRÉ LOZANO

Entidade treina
grupo de dez
índios de RR
para prestar
auxílio médico
às aldeias dos
índios macuxis
e ianomâmis

Um grupo de dez índios ianomâmis e macuxis está prestando assistência médica às aldeias das duas tribos em Roraima.
Eles se especializaram em microscopia (técnica de emprego de microscópio). Por meio da análise do sangue em microscópios, são capazes de identificar doenças como a malária.
Treinados pela organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), os índios microscopistas diagnosticam e tratam doenças de outros índios, principalmente casos de malária.
A primeira turma de índios microscopistas se formou em janeiro do ano passado. Dados estatísticos da MSF mostram que ocorreram no ano passado –após o início do trabalho dos índios– 20 casos de malária a menos do que os acontecidos em 92.
O relações públicas da MSF, Peter Jorna, diz que ainda é cedo para avaliar se atuação dos microscopistas determinou a redução dos casos da doença, mas, segundo ele, "pode ter influenciado".
Em 1992, o número de mortes por malária entre os índios foi 33% menor do que no ano anterior (30 contra 45).
A primeira turma
Os dez primeiros índios microscopistas macuxis e ianomâmis (sete homens e três mulheres) receberam as funções de agentes de saúde depois de oitos semanas de aulas práticas e teóricas em Boa Vista (RR).
A biomédica Maria Inês Malmegrim foi encarregada de ensinar os índios a interpretar as lâminas com amostras de sangue para identificar a malária.
Os índios têm aulas na Fundação Nacional de Saúde. De acordo com Jorna, a formação de cada microscopista indígena custa US$ 5.000 à MSF.
Recursos
A entidade recebe uma parte dos recursos de que dispõe de fundos especiais da Comunidade Européia e outra parte de doações voluntárias.
Sete dos atuais agentes de saúde indígenas trabalham na área macuxi e os outros três, na reserva ianomâmi.
Nas malocas onde os microscopistas ficam sediados existem postos de saúde e laboratórios clínicos equipados com microscópios Olympus, doados pela MSF.
Os aparelhos cedidos pela entidade estão avaliados em US$ 25 mil. Jorna explica que o objetivo da MSF é proporcionar aos índios conhecimento na área médica para que eles possam atingir "a auto-sustentação em saúde".
Segundo ele, as distâncias nas áreas indígenas demarcadas são muito grandes e isso torna difícil o socorro a um índio doente.
"Se eles souberem se tratar, correrão menos riscos", disse Jorna. "Além disso, não sofrerão tanto a interferência da nossa sociedade", afirmou.

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