São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Campos do Jordão cria 'visto' de migrante

DA FOLHA VALE

A Prefeitura de Campos do Jordão está cadastrando os migrantes que chegam à cidade para impedir que desempregados e pessoas que não têm local definido para se instalar fiquem na cidade.
Moradores de áreas de risco e de preservação também estão sendo "convidados" a voltar para suas cidades de origem. A medida é inconstitucional. O artigo 5º diz que todas as pessoas são iguais e têm o direito de ir e vir.
No portal da entrada da cidade, na rodoviária e nas áreas invadidas, uma assistente social preenche ficha padrão. As pessoas que não estiverem dentro dos critérios têm prazo para deixar a cidade.
Nem todos precisam preencher a ficha. Há uma pré-triagem visual feita pela assistente. Quem tem "aparência" de turista não preenche.
A assistente social Ana Maria da Silva disse que a prefeitura orienta as pessoas "sem condições de ficar" para voltar às suas cidades e fornece passagem de ônibus.
Ana afirmou que por semana chegam a Campos em torno de cinco famílias com uma média de seis pessoas cada uma.
"Elas vêm na ilusão de que Campos é um local muito rico e que logo conseguirão emprego."
Segundo Ana, a maioria dos migrantes mentem que têm emprego e casa para morar quando chegam. Ela disse que é feito um levantamento sócio-econômico das pessoas que chegam à cidade.
"A meta da prefeitura é desocupar as áreas invadidas. Os invasores têm que arranjar outra casa, morar com parentes ou ir embora da cidade."
Para inibir a invasão de áreas preservadas, o prefeito João Paulo Ismael (PMDB) assinou um decreto proibindo a instalação de redes de água e luz nestes locais.
O prefeito disse que a medida foi tomada como forma de conter as invasões em Campos, "que estão se tornando um problema crônico na cidade".
"Só nos bairros Santo Antônio e Britador existem 12 mil pessoas morando irregularmente. Os invasores acabam se fixando em áreas consideradas de risco", afirmou.
Maria Aparecida Bueno, 63, mora com mais 19 pessoas em uma casa de madeira no Capivari. Ela saiu de Minas Gerais e está instalada há 45 anos no bairro.
"Os fiscais avisaram que vão derrubar minha casa com máquina, mas não tenho aposentadoria, nem consigo emprego com a minha idade", disse Maria Aparecida.

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