São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Vitamina da cenoura não evita câncer

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O estudo finlandês usou homens fumantes porque trata-se de um grupo de risco de câncer do pulmão. Se o beta-caroteno ajudasse a prevenir essa doença, seu papel na prevenção geral dos cânceres estaria fortemente comprovado. Não foi o caso.
A dose de vitamina E era de 50 miligramas diárias e a de beta-caroteno, de 20 miligramas diárias.
"Nossos resultados não mostram evidência de um efeito benéfico de vitamina E suplementar ou beta-caroteno em termos de prevenção de câncer do pulmão", escreveram na revista médica americana "The New England Journal of Medicine" os pesquisadores responsáveis, finlandeses e americanos (a equipe total de pesquisa, coordenada por Olli Heinonen, J. K. Huttunen e Demetrius Albanes, tinha mais de cem pessoas).
Os cientistas não acreditam que a dose usada era pequena demais para surtir um eventual efeito benéfico.
Ao contrário. No caso do beta-caroteno, sua presença no sangue era dez vezes acima do normal, o que fez com que entre um quarto e um terço dos participantes tivesse a pele amarelada, como se fossem cenouras, fonte natural da substância.
Os dois tipos de suplementos alimentares testados pelos pesquisadores na Finlândia estão entre os mais populares entre os adeptos dessa "moda".
O beta-caroteno é um pigmento amarelado encontrável, por exemplo, na cenoura ("carrot", em inglês, daí o nome), mas também no brócolis, batata-doce e espinafre.
Ingerido pelos animais, transforma-se em vitamina A, que afeta a formação da pele, mucosas, ossos, além de ajudar na visão.
Apesar dessas utilidades, excesso de vitamina A pode afetar negativamente o crescimento, parar a menstruação e causar náuseas. Também causa icterícia, "amarelando" as pessoas.
Já a vitamina E, quimicamente chamada de alfa-tocoferol, tem um papel em parte misterioso no organismo. Ela pode ter ação na formação dos glóbulos vermelhos do sangue e do tecido muscular.
Apesar de ter um papel em grande parte desconhecido pela ciência, a vitamina E é uma campeã de alegações exageradas. Atribui-se a ela um papel terapêutico em problemas circulatórios, distrofia muscular e até em esquizofrenia. Nada disso foi provado.
Felizmente para seus consumidores habituais, também nunca se encontrou nenhum efeito colateral grave no seu consumo exagerado.
As vitaminas têm sido alardeadas como respostas para o problema dos "radicais livres" -compostos químicos altamente reativos, capazes de danificar o material genético das células, além de atacarem proteínas e gorduras.
Eles também estão envolvidos em algumas doenças e são responsáveis pelo envelhecimento.
Mas, mais uma vez, não há provas que o consumo de vitaminas além das necessidades normais do corpo tenham um efeito adicional de detonar os radicais livres e "rejuvenescer".(RBN)

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