São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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O sobe desce das Bolsas

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A ação mais importante das Bolsas de Valores é a da Telebrás. Nos pregões diários da Bovespa, o volume de negócios com este título representa quase metade do total. Ou seja, cerca de US$ 150 milhões por dia.
As negociações com ações da Telebrás em Nova York atingem mais dezenas de milhões de dólares. O mercado diz que se estas ações espirram, as Bolsas no Brasil sofrem de pneumonia. Como vem acontecendo nas últimas semanas.
No auge da euforia das Bolsas, com o acordo da dívida externa e o lançamento da candidatura de FHC, o preço da Telebrás atingiu a US$ 52. Na sexta-feira, estas ações valiam menos que US$ 34.
Uma queda de quase 35%. Como a empresa tem cerca de 300 bilhões de ações, uma perda da ordem de US$ 10 bilhões! "Not bad."
Esta oscilação nas cotações tem várias razões. Primeiro, refletiu o padrão das principais Bolsas da América Latina após a alta dos juros nos EUA.
Todos sabemos da importância do capital externo nas Bolsas dos países emergentes. Uma saída ou redução em sua entrada, nestes mercados, provocam ajustes nos preços dos títulos.
Além disto, acontecimentos como a revolta dos Chiapas e o assassinato do candidato a presidente no México lembraram os investidores do caráter institucional instável destes países.
No plano doméstico, as causas da violenta queda das Bolsas são menos definidas. Primeiro, a decepção com a reforma da Constituição. Depois, a insegurança que a ausência do ministro FHC causou em relação ao plano de estabilização.
Nem a vitória do ministro Ricupero na aprovação da MP da URV serviu para aumentar sua credibilidade. Alguns já dizem que o Ministério da Fazenda tem diplomatas demais e operadores do plano de menos.
Outra causa tem sido a aparente insegurança da equipe econômica na implantação da URV, em relação aos contratos financeiros e às tarifas públicas.
Finalmente, o crescimento de Lula, embora FHC também tenha se firmado nas pesquisas, começa a assustar os investidores estrangeiros.
Neste quadro, as Bolsas podem continuar sangrando, apesar do nível já atrativo dos preços de algumas ações, principalmente da Telebrás.

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