São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Fórmula é repassar incertezas

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REDAÇÃO

Os "derivativos" apareceram nos anos 80 e foram se sofisticando cada vez mais.
Seus primogênitos, os mercados futuros e de opções de commodities, foram criados com o objetivo de proteger produtos agrícolas e minerais das variações bruscas de mercado.
A idéia era simples. Um produtor de soja que queria garantir um preço para sua mercadoria na época da colheita ia ao mercado futuro oferecê-la pelo preço que julgasse adequado.
Se as cotações no prazo dado caíssem, o produtor ganharia porque havia conseguido garantir a remuneração pretendida para sua soja. Se as cotações subissem, quem fez a opção de compra ganharia, pois aceitara uma cotação mais baixa por um produto que agora valia mais.
É um jogo de soma zero, onde o que um lado ganha o outro perde e vice-versa. A partir daí, pode-se atingir um grau de sofisticação absurdo –o estágio atual dos "derivativos".
Pode-se apostar milhões de dólares na valorização ou desvalorização de moedas –o dólar versus a libra, marco, iene etc.– ou no índice de taxas de juros, ou no índice de valorização das Bolsas.
Com os 'derivativos", o céu é o limite. Uma empresa americana que quer garantir o preço de sua compra no mercado londrino vai ao mercado e faz uma opção de compra. Para evitar perdas com a variação da libra em relação ao dólar, vai a uma corretora européia e faz um contrato futuro de moedas.
Se usou dinheiro emprestado, tenta se proteger no mercado futuro de juros de altas nas taxas. Nas outras pontas desta cadeia podem estar uma empresa de petróleo saudita, um banco latino-americano e uma corretora japonesa, por exemplo.
Quem quer proteção passa o risco para a frente, mas o risco em si não deixa de existir. Quem o assumiu tenta se proteger através de operações semelhantes, formando uma extensa rede de transações.
Estas modalidades de "proteção" (hedge) abriram um grande espaço para enorme especulação e para milionários despejarem bilhões de dólares atrás de grandes lucros (ou prejuízos). Para bancarem suas apostas, usam em grande parte empréstimos bancários.
Na maior parte destes mercados, os investidores não entram com dinheiro à vista. Funcionam geralmente por meio de margens e prêmios, de ajuste periódico, que exigem uma parcela relativamente pequena da aposta final, que só será liquidada no prazo estipulado.
É o que se chama de "alavancagem" –com um empréstimo de US$ 10, por exemplo, pode-se entrar em um jogo de US$ 100 ou mais. Se a aposta for errada, o risco de bancarrota é uma forte possibilidade.
A expansão dos "derivativos" não foi gratuita. Os economistas alinham vários motivos básicos, entre eles a possibilidade de inversão aberta com a queda dos regimes socialistas, a onda liberalizante que varre a América Latina, a forte expansão econômica dos países do Sudeste Asiático e também a baixa e estável remuneração de tradicionais aplicações. Nos EUA, os CDBs, até antes da alta dos juros, rendiam 3% ao ano para uma inflação de 2,5%.(JRC)

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