São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Empresas brasileiras escapam do estrago

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um seleto grupo de empresas brasileiras conseguiu escapar dos estragos provocados pela elevação dos juros internacionais.
Petrobrás, Ceval, Alcoa, Shell, IBM, Mc Donalds, MBR e Bayer são alguns exemplos das que fugiram dos gastos mais altos com o aumento do custo financeiro das dívidas em dólar.
Elas fecharam contratos que somaram, em 1993, US$ 2 bilhões no mercado de derivativos internacional, modalidade financeira que que representa uma forma das companhias protegerem-se contra variações da taxa de juro.
Aceitam a aposta, do outro lado, bancos e especuladores. "O curioso é que apesar dos prejuízos provocados neste mercado, os brasileiros escaparam da confusão pois acertaram seu posicionamento", afirma Fernando Sallum, gerente de derivativos do ING Bank.
Donna Nemer, diretora de derivativos do Citibank, o líder deste mercado, responsável por negócios de US$ 380 milhões, afirma que a volatilidade do juro internacional vai despertar a atenção das empresas brasileiras para esta necessidade.
"Poucas empresas conhecem este mercado no Brasil", diz. Nas duas últimas semanas uma multinacional fechou contrato de US$ 40 milhões com o Citibank por receio de novas altas do juro.
As companhias brasileiras que fecharam contratos de derivativos parecem ter adivinhado. Com dívidas em dólar e contratos que prometiam pagar juros flutuantes, optaram por fixar o custo financeiro.
Trocaram o juro variável de acordo com a flutuação do mercado internacional por uma taxa fixa. E isso o mercado de derivativos permite. Acertaram na mosca, pois estão, hoje, protegidas contra a alta do preço do dinheiro no mercado internacional.
"Um cliente tabelou uma taxa de juro no ano passado e hoje já está ganhando algum dinheiro", conta Daniel Kostmann, gerente de derivativos do Chase Manhattan, o primeiro banco a fazer uma operação do tipo no Brasil.
A demanda por estes contratos que permitem a previsibilidade de quanto se vai pagar de juros sobre empréstimo em dólar deve subir, também, por conta do governo.
Segundo Nemer, o Banco Central possui um leque de novos títulos da dívida externa que prometem pagamento de juros de acordo com a flutuação do que acontecer com o custo do dinheiro.
"É um potencial interessado em se proteger com a volatilidade do juro", afirma. Outra situação concreta para a aplicação deste produto: muitas empresas que pretendiam emitir eurobônus, títulos vendidos ao mercado internacional, estão de mãos amarradas.
Com a alta do juro, os investidores internacionais sumiram dos balcões de compra destes papéis. "Ninguém quer comprar um papel que pague um juro prefixado, como é a característica das emissões até agora", afirma Sallum.

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