São Paulo, domingo, 17 de abril de 1994
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Escritor criou sistema de sinais simbólicos

DA REPORTAGEM LOCAL

Os símbolos que Osman Lins usou para identificar os personagens em "Nove, Novena" são, segundo Julieta de Godoy Ladeira, "coisas muito teatrais".
"São entradas e saídas do texto. Ele adorava teatro. Gostava de cinema também, de western, mas quando estava na Europa ia todo dia ao teatro. Gostava do rigor do teatro francês. A coisa comedida. Mas, às vezes, preferia montagens de vanguarda, porque aquele outro teatro tradicional lhe parecia coisa de museu também", diz Godoy.
Além dos textos em prosa, dos ensaios e dos relatos de viagem, Osman Lins escreveu também para teatro: "Lisbela e o Prisioneiro" (1961), "Guerra do Cansa Cavalo" (1967), "Capa Verde e o Natal" (1967) e "Romance dos Dois Soldados de Herodes" (1977).
"Ele era tímido. Por isso dava a impressão de uma pessoa muito séria. Mas o que escreveu tinha muito humor, basta você pegar o teatro", diz Godoy.
Os sinais, que em "Nove, Novena" têm a função prioritária de "entradas e saídas", identificação dos fragmentos que compõem os personagens, ganham no romance "Avalovara" uma complexidade bem maior.
Os capítulos do romance se sucedem numa ordem prestabelecida, seguindo a linha de uma espiral sobre um quadrado.
É a estrutura prévia da espiral sobre o quadrado (uma grade formada por 25 quadrados menores, cada um com uma letra) que determina a progressão da narrativa, um triângulo amoroso.
Em "Nove, Novena", no entanto, o artifício da identificação dos personagens pelos sinais que iniciam os parágrafos, anunciando as diferentes vozes, parece esconder algo mais profundo.
O artifício estabelece, ao mesmo tempo, uma identificação aparentemente involuntária entre os personagens, uma confusão, um efeito oposto ao que parecia ter como finalidade.
Sob a superfície da ordem fornecida pelos sinais, está uma vontade maior de identificação de todos os personagens num único ser, que é o texto. Como se estivessem todos confundidos num único múltiplo (o que chega a ser tematizado na narrativa "Os Confundidos"). Como se todos os diferentes fossem, no fundo, diversas manifestações de um só.
É o que permite também a compaixão irrestrita do escritor: estar em toda parte, sentir na pele do outro.

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