São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Congressistas atribuem fracasso a ano eleitoral

LUCIO VAZ; RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A revisão constitucional fracassou porque o Congresso não teve vontade política e está fragilizado pelo escândalo da Comissão do Orçamento. Em ano eleitoral, os congressistas não tiveram coragem de enfrentar questões polêmicas que poderiam resultar na perda de votos em 3 de outubro.
Esta conclusão é comum a parlamentares que vão da esquerda à direita. "Ninguém quer votar medida impopular antes da eleição. Não querem botar o nome no painel para aprovar medida impopular", diz o líder do PFL na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (BA).
Para o vice-presidente da revisão, deputado Adylson Motta (PPR-RS), faltou vontade política. "Havia um grupo minoritário contra, mas os que defendiam a revisão não demonstraram vontade de fazê-la", disse.
O relator da revisão, deputado Nelson Jobim (PMDB-RS), entende que a revisão se inviabilizou "porque os partidos estão esfacelados, sem eixo".
Todos são unânimes em afirmar que a CPI do Orçamento foi um golpe mortal para a revisão. O primeiro motivo foi de ordem técnica: os trabalhos da CPI paralisaram a revisão por três meses.
O segundo motivo foi de ordem moral. O Congresso ficou acuado, pressionado pela opinião pública. Acusados de desviar milhões de dólares, os "anões" do Orçamento não foram excluídos da revisão, o que a desmoralizou ainda mais.
A derrubada da cúpula que liderava e fazia o Congresso andar foi o terceiro motivo. Caíram o ex-presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro (RS), e os ex-líderes do PMDB, Genebaldo Correia (BA), e do PFL, Ricardo Fiuza (PE).
A falta de uma liderança aceita por todas as correntes políticas, como Ulysses Guimarães (PMDB), foi outro problema enfrentado pelo Congresso.
O presidente da revisão, senador Humberto Lucena (PMDB-PB), teve dificuldades para conduzir as sessões e as negociações. "Faltou comando político", disse o deputado José Genoino (PT-SP).
Outro motivo apontado foi o desinteresse do governo. "O governo pegou carona para aprovar o Fundo Social de Emergência. Depois, foi omisso", diz o deputado Alberto Goldman (PMDB-SP).
A ação dos "contras" (partidos de esquerda contrários à revisão) é apontada como motivo do fracasso apenas por Lucena. O presidente nacional do PPR, senador Esperidião Amin (SC), lembra que os "contras" eram apenas 80, num total de 584 congressistas.

Texto Anterior: Futuro governo terá dificuldades, diz Flores
Próximo Texto: Líderes fazem nova pauta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.