São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 1994
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Collor insiste em sobras de campanha

*GUTEMBERG DE SOUZA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os advogados do ex-presidente Fernando Collor apresentaram ontem um laudo pericial mostrando que a principal conta de sua campanha eleitoral em 89 movimentou US$ 57 milhões.
"Era dinheiro pra burro", comentou o advogado Evaristo de Moraes Filho ao entregar ontem ao STF (Supremo Tribunal Federal) as alegações finais da defesa no processo em que o ex-presidente é acusado de corrupção passiva.
O relator do caso, ministro Ilmar Galvão, vai agora preparar o relatório que será submetido ao plenário. O julgamento é esperado para junho, mas não há data marcada. Se for condenado, Collor pode pegar de um a oito anos de reclusão.
Com o laudo, feito em março último por peritos da Polícia Federal, a defesa tenta tornar convincente a versão dada pelo empresário Paulo César Farias, o PC, de que a campanha teve uma sobra de US$ 28 milhões.
Esta seria a fonte dos recursos que o chamado "esquema PC" movimentava para cobrir as despesas pessoais de Collor, como as reformas da Casa da Dinda.
O procurador-geral da República, Aristides Junqueira Alvarenga, sustenta que o dinheiro que PC repassava para Collor veio de empresas que pagavam propinas para ter seus interesses atendidos no governo.
A principal tese da defesa é a de que não há prova de nenhum ato praticado por Collor, como presidente, em favor das empresas que deram dinheiro ao esquema PC.
A alegação de que teria havido sobras expressivas da campanha eleitoral começou a ser usada quando PC Farias –que está preso no Batalhão de Choque de Brasília– foi interrogado pelo STF.
Na ocasião, PC disse que chegou a recolher contribuições eleitorais no valor de US 100 milhões, dos quais teriam sobrado US 28 milhões. O laudo apresentado ontem não prova que houve sobras.
"O que queremos mostrar é que a hipótese de sobra não é uma fantasia", disse Evaristo de Moraes, lembrando que não faltava dinheiro. "O empresariado bancou a candidatura do sr. Fernando Collor", afirmou.
Segundo ele, Collor sabia das sobras, mas não da conta –aberta em nome do "fantasma" Alberto Alves Miranda e administrada por PC. O advogado disse que havia outras contas menores para a campanha.
A defesa alega ainda que Collor também contava com o dinheiro da "Operação Uruguai" –um empréstimo de US 3,75 milhões que teria sido tomado no início da campanha, antes que as empresas começassem a fazer doações.
A CPI do Collorgate apurou que PC transferiu US 6,5 milhões para o então presidente. Indagado sobre onde estaria o restante dos US 28 milhões, Evaristo de Moraes sorriu: "Comigo não está."
Ontem fez um ano desde que o STF acolheu a denúncia do procurador-geral contra Collor e mais oito pessoas, entre elas PC Farias e o ex-secretário particular da Presidência, Cláudio Vieira. Todos entregaram suas alegações finais.

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