São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
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"Padrinhos" passam a bola

FERNANDA SCALZO
DA ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

"Lavadeira, empregada ou costureira", assim Neguinho do Samba via o mercado de trabalho para suas oito irmãs. Por isso resolveu criar a banda Didá.
Carlinhos Brown deu instrumentos e arrumou patrocínios para a Bolacha Maria. Os dois agora querem ver as bandas andando com as próprias pernas.
"A mãe de uma das meninas me disse: `Poxa, você abandonou elas'. Ela não entende que o paternalismo é desnecessário", disse Carlinhos Brown.
"Eu já me considero paternalista em comprar e ceder instrumentos, em ir nos ensaios, ensinar as técnicas, procurar patrocinador. Isso já é excessivo", diz ele.
"Quando pensei em fazer a banda, fui muito criticado, porque as pessoas achavam que elas não iam conseguir", disse Carlinhos.
Neguinho do Samba teve problemas com a primeira banda de meninas que quis montar: "Elas eram muito novas, não queriam mais ir à escola e as mães começaram a achar ruim".
Carlinhos Brown diz que as bandas de percussão femininas se inserem numa "volta às etnias" que marcaria este terceiro milênio.
"Todo grupo étnico que se preze tem as mulheres na música, na percussão. A percussividade feminina está no parto, na educação, na palmada", disse.
"A proposta das meninas da Bolacha Maria é reavivar isso com presteza e com caráter. É o momento da mutação."
Mutação, segundo ele, muito mais ampla do que possa supor qualquer mortal: "A humanidade comemora este século voltando para suas bases. Mas não somos primitivos porque a frequência alienígena é clara em todo o planeta".
"Eu já acho que tudo que tem ponta, do Empire State à Igreja do Bonfim, todas essas coisas voarão, vão procurar seu caminho, como os maias e os incas", disse Carlinhos. E mulher tem ponta?

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