São Paulo, quarta-feira, 4 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Quércia e o caso Israel

A apresentação ontem pelo Ministério Público Federal das denúncias relativas ao caso das importações suspeitas de Israel chama a atenção pela projeção dos nomes envolvidos, como o do ex-governador de São Paulo e pré-candidato do PMDB à Presidência Orestes Quércia. Merece nota também por constituir um avanço decisivo numa investigação que foi objeto de várias –e intrigantes– idas, vindas, recuos e protelações.
O subprocurador-geral da República, Paulo Sollberger, acusa de estelionato Quércia, os ex-secretários Luiz Gonzaga de Mello Belluzo, da Ciência e Tecnologia, e José Machado de Campos Filho, da Fazenda, além de cinco executivos da empresa Trace, intermediária da transação. Segundo Sollberger, as compras sem licitação de US$ 310 milhões em equipamentos israelenses foram superfaturadas.
Cabe agora ao Superior Tribunal de Justiça decidir se dá ou não andamento ao processo. O atual governador paulista, Luiz Antonio Fleury Filho, não foi incluído nesta denúncia, mas sua situação ainda depende de novas perícias.
As investigações foram abertas inicialmente em julho de 1991, baseadas em reportagens desta Folha que levantavam diversas suspeitas quanto à importação. Apesar de todas as dúvidas, do laudo pericial apontando superfaturamento e até das declarações de um político da reputação de Severo Gomes –que se demitiu da Secretaria de Ciência e Tecnologia para não compactuar com o que chamou de fraude–, a apuração se arrastou lentamente, e com obstáculos, até agora.
De todo modo, tal é a tradição de impunidade no país, ainda mais no que tange a figuras de projeção, que não deixa de ser animador constatar até onde já chegou o processo. Um dos envolvidos, de fato, é postulante ao Planalto e a denúncia decerto afetará sua campanha.
Resta agora seguir os desdobramentos e assegurar que os acusados –no caso, é claro, de serem condenados em julgamento isento e rigoroso– sejam punidos e os danos causados, ressarcidos. É afinal uma decisão que interessa não só ao contribuinte paulista, que foi quem pagou pela transação, como ao eleitorado de todo o país.

Texto Anterior: Macunaíma X Senna
Próximo Texto: O parto da montanha
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.