São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Estimativas erram alvo e arranham consultores

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O conflito de índices de inflação provocou escoriações na imagem dos consultores econômicos, profissionais contratados para prever o futuro.
A maioria deles errou e provocou críticas do mercado financeiro que os contrata para ajudar a desvendar a incógnita da inflação.
Estão neste caso, a MCM, Rosemberg & Associados e, em menor escala no volume de reclamações, a GPC Consultores.
"Os consultores erraram realmente, principalmente o IGP-M e o IPCA-E", afirma Geraldo Carbone, diretor do Boston. "O problema é que eles também não conhecem estes índices e simplesmente palpitavam e não dávamos tanta importância. Agora mudou".
Cláudio Adilson Gonzales, sócio da MCM, concorda. Admite o erro, mas lembra que o IGP-M é um índice totalmente distorcido.
"Na Fipe a gente acerta, mas esses índices não dá", afirma. "Estimar o IGP-M nesta fase de transição é trabalhar no escuro. Temos mais de 80 clientes e todos compreendem a dificuldade deste momento transitório."
O problema apontado pelos consultores é que o IPA (Índice de Preços no Atacado), um dos fatores que compõem o IGP-M, comparou preços que estavam em cruzeiros reais, para pagamento a prazo, com a nova tabela em URV.
A explicação é aceita, mas com lamento. "Não deixa de ser uma frustração para a gente que espera que eles acertem", diz Norberto Barbedo, diretor do BCN.
Gil Pace, da GPC, afirma que preferiu a cautela em abril. "Eu apontei os erros de metodologia e sai fora", diz. "Outros, que preferiram afirmar os números, podem ser prejudicados."
Para ele, houve gente que ganhou muito e outros perderam outro tanto por conta deste jogo. Pace afirma que mais acertou que errou nas suas previsões.
"Entre meus clientes, ninguém operou IGP-M", afirma. "A diferença é que a inflação é tudo para nós, enquanto os concorrentes têm a inflação como um produto a mais e acabam errando."
Gonzales lembra, porém, que o mercado financeiro pratica um jogo predatório, perverso. "É um contra o outro, num jogo aleatório muito baseado em informação privilegiada de soma zero", diz.
A MCM está, agora, enviando alertas junto com suas estimativas. Garante acertar o índice da Fipe em cheio, dá um grau de perfeição de 80% no IPCA-E e é mais modesto em relação ao IGP-M: 90% de margem de erro.
Os profissionais do mercado financeiro aceitam as ponderações. Ricardo Braga, diretor financeiro do Citibank, afirma que os consultores e o mercado percebem que, além da Fipe, é fundamental acompanhar o IGP-M e o IPCA-E.
"É natural que aconteçam desvios estatísticos na adoção de um novo indexador, a URV", diz.

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