São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
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BC diz que poupança "não será garfada"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Pedro Malan, recorreu ontem à gíria para garantir que a conversão do cruzeiro para o real não vai prejudicar os poupadores: "A poupança não será garfada".
"Não temos nenhum interesse em tomar medida que envolva desestímulo ao poupador em geral, e à caderneta de poupança em particular, e não o faremos", completou o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero.
Malan e Ricupero, porém, deixaram claro que haverá normas especiais para as cadernetas de poupança e demais aplicações abertas ou renovadas em junho, com vencimento a partir de julho.
Essas modificações, a serem anunciadas no mês que vem, têm o objetivo de evitar que as aplicações sejam corrigidas com base na inflação em cruzeiros reais. O governo espera uma queda brusca da inflação após 1º de julho.
Segundo Malan, os saldos das cadernetas de poupança serão convertidos ao real nas datas de "aniversário" das aplicações, após efetuado o crédito relativo ao período anterior de 30 dias.
Será definida também uma regra para quem sacar dinheiro em julho antes do aniversário da aplicação. Um mecanismo provável é considerar como saldo da aplicação o número de URVs existente no último aniversário.
Na entrevista concedida ontem, Ricupero disse que o governo tem interesse em preservar as aplicações financeiras em geral, ou "poupança financeira" –expressão que, segundo ele, tem sido confundida com caderneta de poupança.
A preocupação do governo é evitar que a queda da inflação provoque saques nas aplicações financeiras. Isso elevaria o volume de dinheiro em circulação na economia e geraria inflação na nova moeda.
Esse fenômeno ocorreu em 1986, durante o Plano Cruzado, e ajudou a promover uma alta do consumo que inviabilizou o controle dos preços.
Malan negou que isso possa se repetir agora. "Há alguns analistas que apressadamente concluem que a população é ignorante e sairá desesperadamente gastando em bens de consumo porque a poupança não é atrativa".
O governo não estudou, até agora, medidas de incentivo à poupança e às demais aplicações como isenção de IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira) e incentivos fiscais, informou Malan. Essas possibilidades, entretanto, não estão descartadas, apurou a Folha.
Para a poupança, o Banco Central promoverá alterações no cálculo da TR (Taxa Referencial), que será mantida como indexador da aplicação. A preservação da TR tem o objetivo de evitar fuga de poupadores.
A medida provisória prevê que o cálculo da TR, hoje com base nas taxas dos CDBs prefixados, ter como referência o CDI (juros diários nas negociações de overnight entre os bancos).

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