São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-capitão defende ação da Rota em livro

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado estadual Roberval Conte Lopes (PPR) lança hoje o livro "Matar ou morrer".
Com 46 anos e 42 mortes assumidas, o ex-capitão da Rota relata um a um os supostos tiroteios dos quais participou e outros casos que foram noticiados em jornais.
"Matar ou morrer" (Editora Nacional, 336 páginas, CR$ 18 mil) pretende ser uma resposta ao livro "Rota 66", do jornalista Caco Barcellos.
Nesse livro, Lopes é analisado no capítulo "Deputado Matador".
"Matar ou morrer" relata em média duas mortes por capítulo: sete policiais, 49 suspeitos de crimes e seis vítimas de ladrões.
Os supostos criminosos quase sempre estão fumando maconha, cheirando cocaína, armados com revólveres e dispostos a enfrentar policiais da Rota.
Eles, diz o autor, nunca querem se entregar, mesmo sendo nítido que não têm outra alternativa.
Conte Lopes usa sentenças do Tribunal de Justiça Militar e do Tribunal de Justiça do Estado para apresentar a sua versão dos fatos como verdadeira.
O ex-capitão da Rota nunca foi condenado pelas mortes.
Em seu livro, Conte contesta alguns episódios relatados em "Rota 66" (leia texto ao lado), mas confirma a descrição feita nesse livro de seu modo de ação.
O deputado diz que quase sempre ficava tocaiando sua vítimas.
Elas são pegas de surpresa após suas casas ou esconderijos serem descobertos por PMs do Serviço Reservado da Rota.
Lopes diz que, mesmo não tendo sido presas antes, suas vítimas já teriam cometidos crimes.
"Rota 66" conta 13 vítimas de Conte Lopes que não tinham passagem pela polícia.
Duas já haviam roubado e matado. Dez moravam no mesmo bairro que o deputado, em Guarulhos (Grande São Paulo).
"Se for provado que eu matei algum dia um inocente, eu renuncio ao meu mandato de deputado", disse Conte Lopes.
No livro do deputado também são citados os chamados maiores matadores da PM: o tenente-coronel Gilson Lopes, os capitães Walter Mendonça, Vanderley Mascarenhas, Arivaldo Salgado e o sargento Roberto Martinez.
Todos trabalharam na Rota. Só Lopes, Martinez e Conte têm juntos 135 mortes assumidas.
"Todos são foram citados no `Rota 66'. Coversei com alguns deles sobre o livro e eles me apoiaram", disse Conte.
Em apenas dois casos relatados por ele, pessoas com quem se envolveu em tiroteio saíram vivas. 13 morreram com tiros na cabeça.
O deputado nega pretender usar seu livro como plataforma política para a reeleição. "Meu objetivo foi mostrar que não sou matador de inocentes."

Texto Anterior: Fim do 'efeito Senna' eleva as estatísticas de acidentes
Próximo Texto: Bala perdida mata menino na zona leste
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.