São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Empresários americanos criticam Lula

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Os empresários americanos criticaram ontem em Nova York as soluções econômicas para o Brasil apresentadas pelo candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, em almoço na Câmara Brasil-Estados Unidos de Comércio.
O diagnóstico da crise brasileira, segundo os empresários, está correto. O problema são as medidas para solucionar os problemas e a consistência do programa.
"Este senhor está querendo voltar ao passado. Ele pode ser um desastre", disse um empresário, que saiu antes que Lula terminasse de responder a uma platéia de mais de 670 banqueiros e executivos no Marriot Marquis Hotel.
"Todos os fatos importantes do seu programa econômico estão faltando. Ele não explica como e com que recursos vai implantar o que diz", disse Derek Hudson, vice- presidente do Arab Banking Corporation.
"Lula também não é francamente a favor das privatizações em país que tem um Estado grande como um câncer", afirmou Hudson.
Lula discursou ao lado do coordenador de seu programa econômico, Aloizio Mercante, e respondeu a cerca de 25 perguntas.
O candidato do PT repetiu quase tudo o que tem dito desde que chegou a Nova York, no domingo passado. As perguntas também foram as mesmas, revelando desconfiança em relação às respostas.
O almoço de ontem foi o maior já realizado pela Câmara brasileira em Nova York. O presidente Fernando Collor atraiu em 1989, quando já estava eleito, 400 pessoas para um encontro parecido.
Mario Lorencatto, diretor de operações financeiras da Philip Morris para a América Latina, disse que "o discurso de Lula está no sentido contrário ao do resto do mundo."
"Suas idéias de estatização podem isolar o país", disse Lorencatto. Segundo ele, a Philip Morris não tem qualquer intenção de reduzir seus investimentos no país caso Lula seja eleito. A empresa controla ainda a Kibon e Q-Refresco.
Sobre as privatizações, Lula repetiu que não abre os setores de petróleo e comunicações. Para as outras áreas, disse que os empresários deveriam "se preocupar em fazer novas empresas antes de querer comprar as já existentes".
Sobre o Estado brasileiro, o candidato do PT disse que ele é fraco e que precisa ser fortalecido. "O tamanho, grande ou pequeno, não importa. O Estado deve ser forte e eficiente", disse.
Na área tributária, Lula disse que os impostos devem ser simplificados e ter alíquotas progressivas. Sobre a inflação, disse que a estratégia vai depender da conjuntura do momento da posse.
"O senhor Lula vê as coisas de uma forma muito prática, o que é extraordinário, mas parece faltar competência e formação econômica", disse Alex Erlach, diretor do Union Bank of Switzerland.
"Há muito temor também sobre o que ele fará com as Bolsas de Valores, apesar do seu discurso, que nega o radicalismo", disse.
"Há muita dúvida sobre todo o programa de Lula, mas não acho que os investidores e empresários sairão do Brasil sem esperar para ver o que acontece", disse Thomas Enders, diretor da corretora Salomon Brothers.
O candidato do PT retornaria a São Paulo ontem à noite.

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