São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Fórmula 1: onde começaram os erros?

IVO SERGIO SZNELWAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Muito se critica as mudanças de regulamento após o final de semana trágico em Imola. O problema real é que as mudanças foram poucas. Os carros de Fórmula 1 hoje são como aviões.
Hoje, os dispositivos aerodinâmicos são os maiores responsáveis em manter o carro no chão, para que os pneus possam ficar em contato com ele, permitindo ao piloto tracionar, conduzir e frear em uma curva, através do atrito.
Para que um pneu possa gerar força de atrito suficiente, é obrigatório que ele esteja em contato com o solo.
A suspensão do automóvel é a responsável por absorver a oscilação causada pelas irregularidades do piso e manter as rodas em contato com ele. Em um carro convencional, a suspensão é macia, com grande movimentação, permitindo um rodar suave. Em compensação permite uma rolagem muito grande das rodas em curvas, além de alterar a distribuição de peso sobre as mesmas.
Já as suspensões de carros de corrida, de pequeno curso e bem rígidas, permitem uma melhor condução do veículo em curvas, apesar de pouco confortáveis.
Além das condições de pneus e solo, a força de atrito depende da força vertical que age entre os mesmos. Numa curva, essa força tem que ser maior ainda, para que o atrito "segure" o carro na pista.
Para aumentar essa força vertical, a saída utilizada nas corridas são os dispositivos aerodinâmicos, como spoilers e aerofólios. Trabalhando como asas invertidas, os aerofólios dianteiros e traseiros geram força vertical, aumentando assim a força de atrito disponível para percorrer curvas em alta velocidade.
Mas isso gera também uma força de arrasto horizontal (o carro precisa de mais potência para vencer a resistência do ar), que obriga a utilização de um motor mais forte.
Os criativos engenheiros da Fórmula 1, então, procuraram recursos para evitar este arrasto, mantendo a geração de força vertical. A primeira grande revolução neste campo foram os carros-asa, da década de 70, assim como as chamadas mini-saias.
Hoje em dia, driblando as regras da FIA, os carros usam a combinação bico elevado, fundo plano e extrator traseiro. A primeira consequência desta brutal força "apertando" o carro contra a pista é a necessidade do uso de molas muito duras na suspensão, evitando que o carro esfregue no chão.
Os pilotos tornaram-se ginastas profissionais para aguentar a trepidação e a força que tenta lhes arrancar o pescoço nas curvas.
Porém, quando algo falha, a perda de carga aerodinâmica é tão violenta que torna, muitas vezes, impossível retomar o controle do carro. Por falha, entenda-se qualquer coisa que faça o carro pular ou rodar (altera-se o paralelismo do fundo do carro em relação ao chão ou o fluxo longitudinal do ar).
A suspensão ativa, banida no final do ano passado, tinha por princípio manter o carro paralelo ao chão, e não evitar essas falhas. Se ela quebrasse, as consequências seriam as mesmas.
O controle de tração, também proibido, compensava a falta de uma "suspensão" mais rígida na traseira.
Estas tecnologias foram banidas e os carros continuaram potentes como antes, assim como os dispositivos aerodinâmicos não sofreram alteração.
Não se defende aqui a volta da eletrônica, mas um estudo e redução das causas que levaram os engenheiros a procurá-la: multiplicar em demasia a força vertical sobre o carro.

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