São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Oportunismo domina "Os Puxa-Sacos"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: Os Puxa-Sacos (Greedy)
Produção: EUA, 1994
Direção: Jonathan Lynn
Elenco: Michael J. Fox, Kirk Douglas, Nancy Travis
Onde: a partir de hoje nos cines Comodoro, Metro 1, Gemini 2, Center Iguatemi 2, Eldorado 4 e circuito

A situação de "Os Puxa-Sacos" é familiar em mais de um sentido. Existe, de um lado, o milionário Joe McTeague (Kirk Douglas). De outro, uma multidão de parentes de olho na herança.
É uma situação standard, segundo a qual o dinheiro traz, para quem o obtém, solidão, desconfiança e infortúnio.
É nesse quadro que entra em cena Daniel (Michael J. Fox), filho do irmão inconformista do velho Joe e seu parente mais querido. Daniel é um jogador de boliche fracassado e, em princípio, pouco ligado a dinheiro. É chamado pelos demais parentes para reverter a situação que lhes parece desfavorável: uma governanta loirinha capaz de passar a perna em todos eles e ficar com o dinheiro.
Mas McTeague não é apenas um solitário. Também é dominador e manipulador. De certa maneira submete seus possíveis herdeiros, coloca-os sob sua dependência, molda a perversidade de seu comportamento.
A tensão, nessa comédia em que se ri pouco, se desenvolverá em torno da possibilidade de o jovem Daniel sucumbir ou não à mesma mesquinharia que o cerca.
Nada contra uma fábula moral dessa natureza. Os limites de "Os Puxa-Sacos" não se encontram na situação geral, mas na maneira como foi desenvolvida.
Isto é, tudo no filme gira em torno da idéia de acomodação. Toma-se um velho milionário. Ele tem algo de perverso, mas nada que permita torná-lo antipático.
Toma-se um grupo de parentes. Eles não são desenvolvidos para existir em função da herança, mas para serem mesquinhos e odiáveis em tempo integral.
Toma-se, por fim, um jovem simpático, Daniel, e mostra-se como é possível a qualquer ser humano sucumbir à tentação de herdar uma fortuna. Mas Daniel conservará algo de "bom" em si.
O desenvolvimento parcial dos personagens e a maneira arbitrária como eles e a trama são construídos levam o filme a descambar para o trololó em que o moralismo toma o lugar da questão moral.
A necessidade de dizer alguma coisa sobre a natureza humana, sobre a ética ou a convivência com o dinheiro acabam por se esboroar, esmagadas sob a necessidade de não desagradar ao público. O oportunismo é quem ganha a parada nessa comédia com pose de bom-rapaz.

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