São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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"Gerônimo" resgata heroísmo indígena

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Título: Gerônimo, uma Lenda Americana
Direção: Walter Hill
Produção: EUA, 1993
Roteiro: John Milius e Larry Gross
Música: Ry Cooder
Fotografia: Lloyd Ahern
Quando: estréia hoje
Onde: Marabá, Paulista 3, Center Norte 3, Interlagos 2
Elenco: Wes Studi (Gerônimo), Jason Patric (Gatewood), Gene Hackmann (general Crook), Robert Duvall (Al Sieber), Matt Damon (Davis)
Sinopse: Jovem oficial do exército dos EUA conta a história da captura do chefe apache Gerônimo, em 1886

O cinema norte-americano sempre tratou o índio de maneira ambivalente. Ora o "pele vermelha" é um assassino desapiedado e bárbaro, ora o "bom selvagem" é o último refúgio da pureza perdida. Walter Hill tentou com "Gerônimo" um caminho intermediário.
Goyathlay (Aquele que Boceja) foi um chefe apache chiricaua, nascido em 1829 e morto em 1909. Os chiricahuas e outras tribos apaches viviam nos regiões desérticas na fronteira entre os Estados Unidos e o México atuais. Chegaram lá por volta do ano mil da era cristã.
Os mexicanos e os chiricahuas mataram-se durante gerações. Goyathlay destacou-se desde 1846 na luta contra os mexicanos, que o chamaram de Gerônimo. O nome pegou e foi usado pelos norte-americanos, os ocupantes seguintes do território.
O filme de Hill conta a história da "guerra apache". O exército dos EUA executou as ordens de confinamento das várias nações indígenas. Os chiricahuas foram os últimos a resistir. Gerônimo era o chefe. Virou uma lenda.
Até porque sobreviveu para contar a história. Mandado com os remanescentes de sua nação para várias regiões do país, acabou morrendo longe de sua terra. Cinco mil soldados perseguiam 34 índios.
Para capturar Gerônimo, em 1886, o general norte-americano Nelson Miles enganou-o. Prometeu um exílio curto. Gerônimo nunca mais voltou. Antes de morrer, ditou sua biografia a um branco, S.S. Barrett. Sua imagem permaneceu porque outro branco, C.S.Fly, recebeu uma autorização para registrar seu encontro com outro general norte-americano, George Crook (no filme, interpretado por Gene Hackman).
O filme de Hill tentou ser fiel à história do fim de uma nação. Em certos momentos, consegue. Em outros, descamba para uma sentimental defesa dos ideais norte-americanos de liberdade e justiça, representados pelo tenente Charles Gatewood (Jason Patric).
Wes Studi, ele mesmo um cherokee (outra nação indígena norte-americana), é Gerônimo. Studi especializou-se em cumprir o papel do índio mau (em "Dança com Lobos" fazia um pawnee que mata e arranca escalpos; em "O Último dos Moicanos" era Mauga, o índio que destrói a vida do herói).
Desta vez, sobrou-lhe um lugar mais honroso. Gerônimo não era um bom selvagem; também não era um assassino. Era um apache chiricahua, um caçador e guerreiro, treinado para matar e defender-se. Hill consegue seus melhores momentos ao mostrá-lo.
O filme foi rodado parcialmente em locações no estado de Utah (e não no Arizona, onde se passou a história verdadeira), com cuidados nos figurinos, no uso da língua e dos rituais e costumes chiricahuas. Curiosamente, os mesmos "canyons" de "Gerônimo" aparecem nos filmes de John Ford. Os índios mudaram.

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