São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Livro de médico ensina como ficar doente

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O clínico e sanitarista Márcio Bontempo, 41, encontrou uma solução curiosa para levar as pessoas a cuidarem da saúde: ensinou a elas como ficar doentes.
Não se sabe se o método está mudando comportamentos, mas o livro onde o médico sugere receitas para pegar doenças virou sucesso editorial.
Tanto que nesta semana Bontempo está lançando uma edição ampliada: "Novas receitas para ficar doente" (Editora Best Seller, 182 páginas, 12,20 URVs).
Segundo ele, o livro anterior publicado em 87 pela Editora Hemus vendeu 100 mil exemplares.
Pela medicina holística que ele defende, 85% das doenças degenerativas –câncer, diabetes, problemas do coração, por exemplo– são provocadas pela má qualidade de vida e alimentação inadequada.
"O homem se afastou do ponto de equilíbrio com as leis da natureza", diz. A medicina teria se adaptado a esse desequilíbrio.
"Ela trata os sintomas sem conhecer a causa, que consiste na maioria das vezes em uma infração das leis da natureza."
Bontempo diz que utiliza a alopatia sempre que necessário.
Também defende caminhos não-ortodoxos como a homeopatia, acupuntura, ervas naturais e dietas alimentares.
Mas não foram as receitas para ficar doente que trouxeram dores de cabeça para o médico.
A parte inicial do primeiro livro traz críticas causticas às entidades médicas que custaram um processo no Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo.
O processo foi arquivado e o livro ficou fora do mercado temporariamente. No novo volume, Bontempo repete as críticas.
"Quiseram que eu me retratasse, mas eu não fiz", diz ele.
"Continuo achando que os CRMs representam os mecanismos de controle e repressão. De certo modo, eles estão a serviço da indústria farmacêutica."
Como exemplo, ele cita o fato de os CRMs inibirem as propostas de medicina alternativa.
Bontempo diz ainda que os conselhos de medicina "julgam erros médicos a portas fechadas, quando deveriam ser julgados pela Justiça comum".
Para ele, "o próprio modelo de saúde no Brasil obedece ao lobby da indústria farmacêutica."

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