São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Traficante quer legalização, diz especialista

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes de países latino-americanos temem que grupos de narcotraficantes estejam por trás das campanhas internacionais pela descriminalização e legalização das drogas.
"Eles estão se utilizando de grandes personalidades de vários países para promover a tese da legalização", disse o advogado Rodolfo Vielmann, 55, coordenador-geral do Conselho de Prevenção às Drogas da Guatemala.
A preocupação com a descriminalização foi manifestada na sexta-feira em São Paulo, no último dia de um encontro de especialistas da América Latina em prevenção ao uso de drogas.
O fórum foi patrocinado pelo Programa das Nações Unidas pelo Controle Internacional das Drogas (Pnufid). Quarenta especialistas de 17 países participaram.
Ao final, alguns participantes propuseram uma nova reunião da ONU para tratar exclusivamente da descriminalizacão.
Segundo Vielmann, alguns membros do Ministério da Saúde dos EUA defendem essa tese. Na Colômbia, já há sentenças da Justiça considerando que o uso de drogas é uma questão pessoal e um direito individual.
"A decisão da Justiça de alguns países nos inquieta", disse um dos participantes, que pediu para não ser identificado. "As narcotraficantes matam", lembrou.
O psicólogo José Luiz Harb, 34, subsecretário de Prevenção e Reabilitação Social da Bolívia, disse que a pregação pela descriminalização na Colômbia preocupa.
Segundo ele, o fato de a Bolívia ser um país produtor o diferencia dos outros. "No meu país, a pasta base de cocaína é muito barata e os traficantes estão interessados no mercado externo. Descriminalizar a droga em nada ajudaria."
Luis Carlos Zamora Reys, 37, diretor nacional de Entorpecentes da Colômbia, disse que a legislação de seu país apenas tolera os dependentes, preocupando-se com sua reabilitação.
A primeira dama Ika Fleury disse que a "questão da descriminalização aflora no mundo". "Se mal conduzida, trará problemas graves". Ika é presidente do Fundo Social de Solidariedade do Estado e participou do encerramento da reunião da ONU.
Giovanni Quaqlia, 43, diretor do Programa da ONU (Pnufid) no Brasil, disse que a legalização das drogas "não é uma solução". "É uma tese que começa a ser defendida quando a sociedade tem a impressão que todas as outras medidas fracassaram."
Segundo ele, o que está acontecendo em vários países latinos é uma tendência a não penalizar o consumidor e aqueles que portam pequenas quantidades de drogas.

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