São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Excesso de foguetes preocupa EUA e Europa

DA "NEW SCIENTIST"

Representantes da indústria espacial avisam que um excesso mundial de oferta de foguetes lançadores de satélites pode levar alguns fabricantes à falência.
Numa conferência em Colorado Springs, Colorado (EUA), eles disseram que as perspectivas devem piorar.
Japão, Rússia e China vão aos poucos tirar negócios dos EUA e da Europa, oferecendo lançadores de satélites a preços subsidiados.
A empresa francesa de foguetes Arianespace estima que até 25 satélites comerciais serão lançados por ano durante os próximos três anos. A previsão é que, depois do ano 2000, o mercado se reduza para algo entre 15 e 17 por ano.
Segundo Jean-Marie Luton, chefe da Agência Espacial Européia, isso não é suficiente nem para sustentar duas empresas concorrentes fabricantes de foguetes.
A perspectiva é especialmente preocupante para os EUA e a Europa, que dependem de suas empresas de foguetes para construírem lançadores de satélites.
Houve uma época em que os EUA detinham o virtual monopólio do lançamento de satélites comerciais.
Mas sua participação caiu para apenas 30%, em parte porque os foguetes dos EUA são antiquados e mais caros de operar que os dos concorrentes.
O projeto dos foguetes dos EUA é baseado em mísseis nucleares e utiliza uma tecnologia que data dos anos 60 e 70.
Esses foguetes requerem um "exército" permanente de técnicos para prepará-los para o lançamento, diz Thomas Moorman, vice-comandante do Comando Espacial da Força Aérea dos EUA.
"Não temos feito investimentos pesados na tecnologia de lançamentos espaciais e precisamos retificar isso", diz ele.
O lançador de foguetes francês Ariane 5, com vôo inaugural marcado para o ano que vem, e o foguete japonês H2, lançado pela primeira vez em fevereiro, utilizam tecnologia mais barata.
Segundo Edward Aldridge, ex-secretário da Força Aérea dos EUA, poderia haver um foguete reutilizável.
O programa Guerra nas Estrelas, do Pentágono, vem desenvolvendo um foguete desse tipo, mas é possível que o projeto seja interrompido por cortes no orçamento.
Outra opção seria desenvolver o foguete internacionalmente, dividindo o custo entre vários países.
Os fabricantes de satélites nos EUA observam essas iniciativas com grande interesse.
Steve Dorfman, presidente da GM Hughes Telecommunications and Space, fabricante de satélites para telecomunicações, diz que as empresas dos EUA deveriam poder usar os foguetes mais baratos para lançar satélites, independentemente de onde forem fabricados.
Se não, fabricantes de satélites de outros países terão uma vantagem em relação a eles. Cerca de 70% dos satélites comerciais para comunicações do mundo são fabricados por empresas dos EUA.
Outro participante da conferência em Colorado ofereceu uma sugestão mais radical para tornar os lançadores de foguetes americanos mais competitivos: utilizar foguetes para turismo espacial.
"O problema não é que tenhamos pouca capacidade, é que temos um mercado pequeno demais", diz Tom Rogers, presidente da Associação dos Transportes Espaciais, que representa os fabricantes de foguetes.
Rogers nota que 10 mil pessoas pagam cerca de US$ 20 mil para viajarem à Antártida por ano.
O mesmo número de passageiros representaria uma entrada de caixa enorme para os fabricantes de foguetes. "As pessoas estão dispostas a pagar para entrarem em órbita", insiste Rogers.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Acaso fez cientista criar robô
Próximo Texto: O "antropólogo espontâneo"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.