São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
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Disk-Putas celebra o underground em SP

ERIKA PALOMINO; GUTO BARRA
COLUNISTA DA FOLHA

As músicas não passam de um minuto e meio de duração. Nada de melodia ou arranjos, só muito barulho. Assim é o Disk-Putas, a mais anárquica e debochada formação da cena pop de São Paulo.
Com pouco mais de dois anos de existência, a banda leva aos shows que faz em festas e clubes da cidade seu séquito de amigos e fãs. Todos descolados. O Disk-Putas é o nome que todo mundo adora dizer que adora. Nesta segunda-feira, eles lançam o clip de "Vai Comer ou Quer Que Embrulhe?" (leia texto ao lado). O underground chega ao mainstream?
A atitude é punk, mas com humor e zombaria. A começar do nome. O baterista Renato Cohen, a baixista Priscila Farias e a guitarrista Dora Longo Bahia podem assinar o show com créditos como Isabel Guerrero, Fernando Salinas e Manuela Vereza. O Disk-Putas é pura diversão.
Tudo isso vem nos fanzines que saem a cada show, desenhados por eles mesmos. Renato e Dora são artistas plásticos, Priscila é ilustradora e desenhista de quadrinhos.
Também é nas páginas dos fanzines que eles transcrevem as letras das músicas (nos shows mal dá para entender) que debocham de personagens da cena social da cidade, de personalidades e artistas.
Assim foi com o hit "Morte aos Titãs" (leia letra nesta página), que faz do título da música o refrão de uma cantilena de ódio a minorias, com o tratamento mais politicamente incorreto possível.
Em "Tô Véia Tô Cansada", uma letra de 12 frases chegou a ser ilustrada num fanzine com uma foto de Caetano Veloso, num balãozinho de onde saíam os versos "tô véia tô cansada, num quero sabê de mais nada, tô cheia de ficar a pé na 'strada".
Tudo bem. Tanto que o Disk-Putas chega agora ao estúdio para gravar seu primeiro disco sob os olhos do selo Banguela, de propriedade dos próprios Titãs. Carlos Eduardo Miranda, diretor artístico do Banguela, ressalta que "nada está assinado", mas que acham que são eles mesmos quem têm que lançar "Morte aos Titãs": "Para nós é meio óbvio. E a piada vai ficar ainda mais legal". Miranda se diz ainda um fã do Disk-Putas, acompanhando o trio desde o primeiro show.
Os fãs são fiéis. Num fanzine, o Disk-Putas escreveu o telefone do estúdio em que acontecia a finalização (feita de graça) do clip de "Vai Comer ou Quer Que Embrulhe?", pedindo para as pessoas ligarem para que o vídeo ficasse pronto. "Tivemos que pedir depois para pararem de ligar, foi um inferno", lembra Dora.
Como Priscila, Dora só canta de peruca e figurino de pin up, herança dos tempos em que o performer Marcelo Ferrari encarnava a personagem Marcelona, vestido de mulher, berrando palavrões nos palcos dos shows. Depois de uma briga, Marcelo deixou a banda. Mas a baderna tem que continuar.

Colaborou GUTO BARRA, free-lance para a Folha

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