São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
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Teve calma e domínio para enfrentar dramas

DAVID DREW ZINGG
COLUNISTA DA FOLHA

Está acabado. Jackie se foi, com a sempre-presente classe de uma dama, e todos aqueles sonhos malucos de um governo dirigido com o humor e a graça juvenis de pessoas de Camelot se foram junto com ela.
É verdade que Teddy e vários primos, sobrinhas e tias ainda andam por aí carregando o sobrenome Kennedy, mas eles não merecem ser levados a sério, como atores principais.
Desde o início eu sempre tive dificuldade em tentar decidir se Jackie passava pela vida representando sua percepção própria de Audrey Hepburn, ou se Audrey baseou sua carreira vitalícia nos caprichos e costumes da futura primeira-dama, Jackie Bouvier, a esguia debutante de Newport, Nova York e Washington, D.C.
Com a morte da verdadeira Jackie, toda uma geração em processo de envelhecimento é levada para muito mais perto do último ato de seus próprios e pretensiosos dramas de vida. A morte de Jackie intensifica dramaticamente a consciência da mortalidade entre todo um grupo de pessoas que sabiam exatamente onde estavam quando Jack deu seu suspiro final em Dealey Plaza, Dallas.
Jackie reagiu à morte de seu jovem e belo marido como a dama de sociedade que fora criada para ser. Ela era filha de "Black Jack" Bouvier. "Black Jack" não ganhou seu apelido apenas por gostar do jogo de baralho do mesmo nome, embora adorasse jogar. Ele era "Black" por sua beleza morena, como os irlandeses sedutores de olhos azuis e cílios escuros. Ele levou Jackie a apreciar um jovem senador heróico, lendário, mítico: John Kennedy.
Conheci Jackie dos bailes de debutantes de Nova York, da campanha presidencial e da Casa Branca.
Ela lidava com tudo que a vida lhe atirava com grande calma e autodomínio. Ela era, como dizem, uma senhora muito, muito cool.
Eu me recordo de quando ela servia limonada cor-de-rosa para nós, repórteres e fotógrafos, em Cape Cod, no início da Era Kennedy. Mais tarde ela sozinha limpava a cozinha. Depois daquela cena terrível em Dallas, ela limpou o sangue do jovem Jack que espirrara sobre seu tailleur –mais uma vez, sozinha.

Tradução de Clara Allain

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