São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
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Estão perdendo a cabeça

GILBERTO DIMENSTEIN
BRASÍLIA

A Folha publica hoje reportagem informando que Fernando Henrique Cardoso e José Sarney fecharam acordo na sucessão presidencial. No acerto, FHC se comprometeria a reativar a pleno vapor o programa do leite, uma das marcas sociais do governo Sarney. Estão perdendo a cabeça.
Há, aqui, dois tipos de delitos. Um deles, se o PSDB estiver mentindo para ganhar votos, usando a forma mais rasteira de ludibriar o eleitor. Ou seja, o assistencialismo. O delito maior, porém, é se estiver falando seriamente.
Há estudos mostrando que o programa do leite estimulou a picaretagem. Por isso, foi suspenso. O tíquete do leite virou moeda. Pagou cachaça, cigarro e até mesmo prostitutas. Não é só.
Associações foram criadas para receber o tíquete, servindo de moeda eleitoral. Todos os técnicos sérios do governo concluíram: o modelo não presta. Mas existem alternativas sérias –desde que não se misture combate à pobreza com caça aos votos.
É possível bom resultado caso a distribuição integre um plano de saúde: o leite, então, é encarado como um remédio. Passaria a ser distribuído nos postos de saúde como um dos ingredientes do acompanhamento sistemático das famílias miseráveis –em particular, da mulher.
Sugiro a Fernando Henrique que aproveite o fato de ser intelectual e consulte seus amigos antes de cometer, caso eleito, tamanho desatino.
Só a sugestão de distribuir leite nos velhos moldes já arranha a credibilidade de um candidato.
PS – Por falar em Fernando Henrique Cardoso, ele entrou ontem em contato com esta coluna. Nas entrelinhas, mostrou-se satisfeito com a recusa de Lula em debater o plano econômico. O PSDB tenta vender a imagem de que o candidato do PT é "inexperiente e despreparado". E, por isso, insiste: "Lula está imitando Collor, a quem combatia por não ir aos debates. Quero deixar registrado: aceito debater em qualquer lugar e hora. Se quiser que o local seja o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, eu topo". Minha opinião: se Lula está realmente convencido de suas idéias, deveria aceitar. E, diga-se, não faltam bons argumentos para fazer FHC suar. O eleitor sairia ganhando com esse encontro. Afinal, o plano é o divisor de águas na sucessão.

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