São Paulo, sábado, 28 de maio de 1994
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Soljenitsin volta e diz que não vai mais escrever

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Soljenitsin volta e diz que não vai mais escrever
O escritor Alexander Soljenitsin, 75, um dos mais famosos opositores do regime comunista da extinta URSS, desembarcou ontem no extremo leste da Rússia após 20 anos de exílio no Ocidente.
"Todos os meus livros foram escritos, completei meu trabalho literário. Não vou mais ter tempo para escrever. É hora de assumir o difícil trabalho de reviver a Rússia", disse ele à agência de notícias russa "Itar-Tass".
A primeira cidade visitada por Soljenitsin foi Magadan, onde o avião que o levava desde o Alasca fez escala para reabastecimento.
Seu primeiro ato em solo russo foi uma referência aos milhares que morreram nos campos de concentração durante a era comunista –se curvou em direção ao chão.
"Hoje, no calor da mudança política, as milhões de vítimas são facilmente esquecidas por aqueles que não foram atingidos pela aniquilação e, ainda mais, pelos responsáveis por ela", disse.
Soljenitsin foi expulso da União Soviética em fevereiro 1974. O motivo foi o contrabando e posterior publicação de seu livro "Arquipélago Gulag".
O livro foi um dos primeiros a descrever as prisões comunistas criadas na Sibéria pelo líder comunista Josef Stálin.
Expulso do país, morou dois anos na Suíça e depois mudou-se para Cavendish, cidade de 1.300 habitantes no interior do Estado de Vermont, no nordeste dos EUA.
Em Vladivostok, Soljenitsin foi recebido com festa. Cerca de 4.000 pessoas o esperavam, além de 150 jornalistas e equipe de TV.
Ele repreendeu um de seus assessores que se desentendeu com um cinegrafista. "Veja, você pode me fotografar da maneira que quiser."
Depois disso, duas mulheres vestindo roupas típicas lhe entregaram um pão com sal, tradicional gesto de boas-vindas na Rússia. Soljenitsin beijou o pão.
"Durante meus anos no exílio, acompanhei intensamente a vida de nossa nação. Nunca duvidei que o comunismo fosse entrar em colapso", disse o escritor cumprindo a promessa de fazer um discurso (leia a íntegra nesta página).
Na viagem o escritor quer "redescobrir" o país que ele abandonou há 20 anos e que, depois do fim da URSS (em 1991), ruma para a economia de mercado e tem carros Mercedes Benz e mendigos nas ruas.

LEIA MAIS
Sobre Rússia na página 2-9

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