São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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O fator real

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Ao contrário da campanha presidencial anterior, a deste ano está se caracterizando por uma notável estabilidade nas intenções de voto.
Em 1989, houve o que se chamou à época de "ondas". Primeiro, a onda Collor, que se revelaria imbatível. Depois, a onda Afif (de Guilherme Afif, candidato do PL), que se esvaiu rapidamente.
Por fim, a onda Mário Covas, que chegou até a dar a impressão de que poderia levar o senador paulista ao segundo turno, em lugar de Luiz Inácio Lula da Silva ou de Leonel Brizola, que disputavam o segundo lugar.
Agora, não. Se forem descontadas candidaturas que não se concretizaram (a do prefeito Paulo Maluf e a do ex-presidente José Sarney), o cenário manteve-se imutável. Lula sempre em um cômodo primeiro lugar e Fernando Henrique Cardoso sempre em um segundo lugar não tão cômodo, mas, ainda assim, sossegado.
Certamente contribui para essa estabilidade o fato de que não há, este ano, grandes novidades na corrida sucessória, exceção feita ao deputado Flávio Rocha (PL). A mais elementar lógica manda, no entanto, que se descarte a chance eleitoral de Rocha.
Quanto aos demais candidatos, suas qualidades e defeitos são tão conhecidos que o mais razoável é imaginar-se a manutenção da estabilidade mesmo na reta final. Salvo, é óbvio, que estoure algum grande escândalo envolvendo algum ou alguns deles.
A rigor, há apenas dois fatores que podem provocar uma alteração sensível no quadro. Um é a hipótese, hoje remota, de Quércia conseguir tapar ao menos parcialmente as enormes rachaduras no PMDB. Nesse caso, poderia ameaçar o segundo lugar de FHC.
O segundo fator é o real, a moeda. Se a inflação de fato despencar, como prevêem os economistas, o lógico é que a candidatura Fernando Henrique tenha impulso suficiente para no mínimo evitar a vitória de Lula já no primeiro turno.
Se isso de fato ocorrer, o segundo turno passará a ser questão aberta, por mais que as pesquisas deste momento indiquem uma vitória de Lula. Meu "feeling" pessoal é o de que Lula ou liquida o jogo no primeiro turno ou perde no segundo. A conferir.

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