São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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Sexo imundo é prejudicial à saúde

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sexo. De novo?! Pra lá e pra cá, cima e embaixo, puxa e traz, idéia fixa. Sem nexo? Sexo novamente, guri, atrapalhando sua concentração. Desta vez, com a mais cristalina de todas as verdades: sexo é porco, imundo e prejudicial à saúde. Perda de tempo. Evite-o!
Começa com aquela língua intrusa, balançando de um lado para o outro, como se procurasse um pote de ouro. E entre cuspes e restos do almoço, a cobra sem rabo pula, chacoalha, sente os segredos de um mau hálito, é empurrada de encontro a dentes escuros, poluídos por nicotina, quando não se vê forçada a se enroscar nas amarras de um aparelho de alumínio. Gengivas que sangram, herpes que cantam, e um filete de escarro encontra seu caminho, amém.
Procedimento seguinte: a língua desliza até o pescoço, lambuza, lambuza, xereta a orelha, e entra nela! Minha orelha, deixe-a em paz! A boca passa a assoprar todos os pêlos, desvenda mais segredos, e se instala no centro orbital. Gostosinho, mas que petulância!?
Tira a roupa. Uma calcinha mal lavada, cheiro de peixe no ar. Vê-se o que o mundo procura esconder. Vêem-se os abscessos na virilha, os hematomas na coxa, a hipótese de um cisto hidático, uma úlcera perfurada, um carcinoma ou uma infecção no canal anal.
Vem pro abraço, com braços se cruzando, se atrapalhando. E um brinco quase rasga um rosto, e um anel quase fura o olho. O suor é forte (ácido úrico?). E tem aquela coisa toda molhada, nojenta, com pêlos que coçam, roçam, irritam. Estabelece-se o contato com monilíase, candidíase vulvovaginal, menorréia, dismenorréia e corrimentos variados.
Um homem, uma mulher, homem com homem, mulher com mulher, se esfregando como bichos, um tentando enfiar no outro, insistindo contra barreiras da natureza, tais como hímen e esfíncter contraídos. E quando entra, faz uns barulhos desagradáveis, que lembram a degola de um sapo, o atropelamento de um rato. E o que aquela unha faz nas minhas costas?!
Me desgrudo, prendo com as mãos seu pescoço, e estrangulo a infeliz criatura até a morte. Agora, com a paz de línguas, bocas e unhas imóveis, na ausência de gemidos guturais, com o corpo seco e frio, até que, hum... dá para se pensar no assunto.

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