São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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Amortecedores

O debate sobre uma eventual bolha de consumo a partir do real tem sido intenso nas últimas semanas, mas os dados vão sugerindo que esse é, agora, um risco menor. A equipe veterana do Cruzado naturalmente teme a repetição do ágio e do desabastecimento que ajudaram a sepultar o plano de 1986.
O cenário pré-plano é agora o oposto. O primeiro fator favorável é o nível de utilização da capacidade instalada na indústria, hoje menor do que em 86. Se aumentar a procura, as empresas têm espaço para produzir mais. Com exceção de alguns pontos isolados, como o setor automobilístico e o de TVs (é véspera de Copa), a situação em geral é de folga para aumentar a produção sem elevar muito os custos.
Outro indicador alvissareiro, embora frustrante para os industriais, é o aumento dos estoques. A indústria vendeu menos do que esperava, formando estoques involuntários. Segundo pesquisa da Câmara Americana de Comércio do Rio, a proporção de empresas com estoques considerados excessivos saltou de 6,4% em abril para 13% em maio. Assim, se aumentar a procura por bens de consumo após o real, antes mesmo de aumentar o grau de utilização da capacidade produtiva haverá estoques a liquidar.
Os estoques têm ainda outro efeito estabilizador. Se a indústria estivesse menos estocada, o aumento da produção traria mais emprego e, por decorrência, aumento da massa salarial e, assim, aumento novamente do consumo. Sem estoques a pressão de consumo iria reverter mais rapidamente em aquecimento. Com estoques, antes de contratar mais será necessário vender mais. Ou seja, os estoques funcionam como amortecedores do reaquecimento econômico.
É evidente que o ideal, por todos desejado, é o aumento do consumo, da produção e do emprego. O problema é, sempre, como chegar a esses resultados sem inflação nem desabastecimento. Nas atuais circunstâncias, uma transição ordenada parece ter boas chances.

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