São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Nem risonha nem franca

Depois de muita delonga, o governo finalmente anunciou ontem as regras que vão reger a conversão das mensalidades escolares para a URV. A questão acabou ganhando considerável atenção nos últimos dias devido em boa parte à dificuldade do governo para chegar a uma decisão.
A regra afinal anunciada reza que a mensalidade será convertida para a URV com base na média cobrada nos quatro meses entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano. Repete, portanto, corretamente, a mesma norma adotada para os salários, o que deve expurgar eventuais aumentos que tenham sido praticados nos últimos meses de indefinição. Vale a ressalva, porém, de que os proprietários de escolas ameaçam recorrer à Justiça contra a decisão, preferindo uma média dos últimos quatro meses que incorpore as majorações feitas nesse período
É importante ressaltar que embora a crise econômica tenha afugentado muitas famílias para a escola pública nos últimos tempos, os estabelecimentos particulares ainda são frequentados por uma parcela considerável da classe média. A decisão de ontem, assim, embora refira-se a um setor definido, tem um impacto bastante relevante sobre o dia-a-dia de um amplo contigente de cidadãos.
É possível que o governo, na intenção correta de interferir o mínimo possível e deixar que a economia se acomodasse espontaneamente às novas regras, tenha menosprezado a evidente disparidade de forças existente nas relações entre pais de alunos e proprietários de escola. Essa diferença de poder contribuiu para dificultar e assim prolongar as negociações.
O que mais chama a atenção no episódio, de todo modo, foi a maneira como ele foi conduzido. As sucessivas protelações, recuos e vaivéns de fato não apenas acirraram o clima de incerteza entre as partes envolvidas. Criaram também para a equipe uma imagem de hesitação face à complexidade do plano por ela própria elaborado.

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