São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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Para sérvios, trégua leva a 'guerra total' na Bósnia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os sérvios da Bósnia qualificaram o cessar-fogo de um mês acertado anteontem em Genebra como apenas "um interlúdio de calma" que deverá preceder a "guerra total".
A declaração foi divulgada pela agência oficial sérvia, "SRNA". O cessar-fogo de um mês deve entrar em vigor hoje às 7h (horário de Brasília) em toda a Bósnia.
Os sérvios-bósnios e o Exército (controlado pelos muçulmanos) travaram duelos de artilharia ontem nas regiões de Maglaj (norte), Konjic (sul) e Doboj (nordeste).
O acordo de cessar-fogo não correspondeu à proposta da ONU, que previa uma trégua de quatro meses, a retirada das armas pesadas e a separação das tropas beligerantes por forças de paz.
A ONU também deu respaldo à transformação da ex-república iugoslava numa confederação de cantões étnicos, com 49% do território para os sérvios e 51% para a aliança croata-muçulmana.
Após 26 meses de uma guerra que já deixou 200 mil mortos e 2 milhões de refugiados, os sérvios controlam 70% da Bósnia.
A trégua deverá ser usada para negociações territoriais. O general sérvio Milan Gvero advertiu croatas e muçulmanos a não insistirem quanto a mais território.
Em Washington, a Câmara dos EUA aprovou por 244 votos a 178 resolução determinando que o presidente Bill Clinton suspenda unilateralmente o embargo ao fornecimento de armas à Bósnia.
Clinton pressionou os deputados a não aprovarem essa resolução. Ele defende uma fórmula segundo a qual a Casa Branca consultaria a ONU sobre o fim do embargo.
Esta proposta foi derrotada por 242 votos a 181. O Senado aprovou em abril duas resoluções, respaldando ambas as opções.
O presidente disse através de uma assessora que é a favor de liberar o fornecimento de armas aos muçulmanos, mas que agora isso prejudicaria os esforços pela paz.
Os EUA já tentaram convencer seus aliados europeus a apoiarem a suspensão do embargo imposto pela ONU, mas sem sucesso.
Em Sarajevo, a capital bósnia, o premiê do Canadá, Jean Chrétien, se disse contra suspender o embargo –o que "não levaria à paz".
A seu lado, o premiê bósnio, Haris Silajdzic, afirmou que "o embargo é ilegal". Sem acesso a armas, os muçulmanos ficaram à mercê dos sérvios, que controlam o Exército da ex-Iugoslávia.
Em Istambul (Turquia), o secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, afirmou que o período de trégua deverá ser usado para a conclusão de uma paz definitiva.
Ele participou de uma reunião de ministros das Relações Exteriores dos 16 países-membros da Otan, a aliança militar ocidental.
A Otan dispõe-se a enviar 50 mil soldados à Bósnia numa nova força de paz, mas só após um acordo de paz. Os EUA, que até agora não enviaram tropas, poderiam contribuir com a metade.

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