São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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'Não existem provas materiais da chacina'

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O advogado de defesa dos garimpeiros, Elidoro Mendes, afirma que a acusação de massacre não se sustenta por falta de provas materiais.
"Não existem até agora provas materiais que comprovem a chacina. Existe uma quantidade de mingau dentro de umas cabaças que os índios dizem ser as cinzas do mortos", diz Mendes.
Ele afirma que falta uma prova material indispensável: os exames cadavéricos dos 16 índios mortos.
"Como o juiz vai fazer um júri sem o exame cadavérico, que é a prova material que a lei exige? Não tem como confirmar que aquela substância ali (nas cabaças) pertence a esse ou àquele índio", diz o advogado.
Ele diz que uma ossada encontrada no local do massacre não pode ser considerada elemento de prova.
"Aquela ossada não caracteriza se é de garimpeiro ou de índio", diz o advogado.
Laudo do Departamento de Antropologia Forense do Instituto de Medicina Legal de Brasília, de setembro de 93, mostra que a ossada é de uma índia com idade entre 18 e 22 anos e 1,50 metro de altura.
Elidoro Mendes caiu em contradição. No início da entrevista, negou que tivesse ocorrido algum massacre naquela região. "Eu não vejo crime, porque estive lá", afirmou inicialmente o advogado.
No decorrer da entrevista, passou a admitir as mortes. "O crime não ocorreu no Brasil, então ele deveria tramitar na Venezuela", disse
Elidoro Mendes acompanhou o início das investigações do massacre como membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RR).
Ele disse ter decidido se afastar da apuração porque verificou "que a condução da investigação estava tendenciosa em favor dos índios".
"O procurador público fazia as perguntas à testemunha. Ela estava dizendo que não sabia, que não estava lá e ele queria de qualquer maneira que ela confirmasse uma coisa que não existia", disse.
O procurador Franklin Rodrigues da Costa, que acompanhou toda a investigação da Polícia Federal, nega a acusação.
Mendes afirma que defenderá a tese de negativa de autoria, ou seja, que os garimpeiros acusados não participaram do massacre.
"Quando os garimpeiros forem absolvidos, vou processar o Estado por danos morais e pelos crimes de injúria e difamação de que eles foram vítimas durante todo esse tempo", disse.

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