São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A RAINHA DA FESTA

GEORGE ALONSO; MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

(continuação)
"Uma vez, nocauteei um zagueiro do São Paulo, o Alfredo Ramos. Bati uma falta e a bola acertou a testa dele. Ele ficou desacordado por quase 15 minutos". Ao acordar, bem-humorado, o zagueiro disse: "Não senti nada. Vi passarinhos cantando e borboletas voando".
Se a potência do chute é uma das virtudes que entusiasmam os torcedores de futebol, há no coração das arquibancadas um lugar especial para aqueles que sabem tratar a bola com toques mais carinhosos. É o caso do craque Zico, 41, que na infância só conseguia dormir depois que sua mãe colocasse uma bola ao lado de seu travesseiro. "Ela é o meu brinquedo de sempre", diz Zico, último grande exemplo de um tipo de atacante que, com a camisa 10 consagrada por Pelé, partia do meio do campo em fulminantes arrancadas para o gol.
Mas mesmo o craque, que encerrará sua carreira no Japão em outubro, numa semana comemorativa chamada "Arigatô Zico", teve seus atritos com a bola. Na final do campeonato japonês do ano passado, por exemplo, irritado com a marcação de um pênalti contra sua equipe, cuspiu em seu brinquedo predileto.
Hoje, ele tenta consertar o gesto, recriminado pelos fãs japoneses: "Na verdade cuspi no chão, ao lado da bola, como se faz em peladas, para dar azar ao cobrador. Mas não deixou de ser um protesto contra um resultado fabricado".
Tratada com violência ou cortesia, a bola é capaz de provocar emoções devastadoras no espírito dos brasileiros. A mais odiada de todas encontra-se em exposição no Museu de Arte Moderna do Rio até o dia 10 de julho: um modelo Superball, de cor marrom, que, em 1950, levou o país à depressão coletiva. Deu-se ao desplante de beijar a rede defendida pelo goleiro brasileiro Barbosa, na histórica final contra o Uruguai. A derrota por 2 a 1, no Maracanã, jamais será apagada da memória nacional.
(continua)

Texto Anterior: A RAINHA DA FESTA
Próximo Texto: A RAINHA DA FESTA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.