São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Ninguém decide se o mosquito é federal, estadual ou municipal

Procuradoria abre inquérito para apurar responsabilidade

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

O mosquito da dengue é federal, estadual ou municipal? Essa é a grande polêmica entre o Ministério da Saúde, o governo do Ceará e a Prefeitura de Fortaleza.
Ninguém assume a culpa pelo aedes egypti –nome científico do mosquito–, responsável pela transmissão da doença que virou epidemia no Estado.
Enquanto isso, o mosquito se multiplica e age. Estimativa da Secretaria estadual de Saúde aponta para a possibilidade de 600 mil dos 1,5 milhão de habitantes de Fortaleza serem infectados até o final do ano.
Os números oficiais são infinitamente menores: 8.160 casos até o final do expediente da última quarta-feira.
Segundo os técnicos do governo, pouquíssimas pessoas registram oficialmente a existência da doença. Já morreram, de acordo com os números oficiais, seis pessoas.
A polêmica sobre a responsabilidade nos casos de dengue cresceu tanto que a Procuradoria da República no Ceará resolveu abrir um inquérito.
Segundo o governo do Estado, o mosquito é federal. O governador Ciro Gomes (PSDB) culpa o Ministério da Saúde pela falta de combate ao mosquito e ainda critica a prefeitura pela sua "incompetência" no caso.
Ciro é uma das 8.160 vítimas notificadas oficialmente por ter tido a doença. Teve o tipo mais perigoso de manifestação da praga, a dengue hemorrágica.
Ele diz que a responsabilidade pelo combate ao mosquito seria da FNS (Fundação Nacional de Saúde), órgão federal.
Segundo o governador, somente a FNS possui os caminhões, conhecidos no Ceará como "fumacê", para a pulverização de veneno sobre os focos do aedes egypti.
Os caminhões agora estão em atividade, mas agiram com atraso, diz o governo estadual.
Os técnicos da FNS alegam falta de recursos e estrutura para combater o mosquito, mas não se esquecem de estocar o governador, de forma branda.
Segundo eles, a falta de saneamento básico no Estado é um dos principais problemas.
Argumentam ainda que o governo estadual concentrou todas as suas ações no combate ao cólera, no início deste ano, quando as nuvens do aedes egypti já pairavam sobre o Estado, infectando as pessoas.
Os aliados do prefeito Antonio Cambraia (PMDB) dizem que o governador pretende sempre tirar proveito.
"Se a estatística é boa, ele (Ciro) diz que foi uma realização do governo dele; quando o caso é negativo a culpa é sempre da prefeitura ou do governo federal", diz o deputado estadual Antônio Câmara (PMDB).
O deputado é um crítico permanente de todas as ações do governo dos tucanos.
Câmara concorre a vice-governador na chapa de Juracy Magalhães (PMDB), principal adversário de Tasso Jereissati.
Mesmo com todas as diferenças, nas últimas semanas o governo federal, o estadual e a prefeitura conseguiram algumas ações conjuntas no combate ao mosquito.
Até o Ministério do Exército entrou nas atividades, comandando a pulverização do veneno na periferia de Fortaleza.
A disputa política em torno da dengue é uma repetição do que ocorreu com o cólera.
Aliados do governador e do prefeito disputaram para mostrar aos cearenses quem havia se empenhado mais para reduzir o vibrião colérico. (XS).

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