São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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Lula e FHC jogam na retranca na Copa

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cuidadosos, com medo de fazer um gol contra na corrida pelos votos, os dois candidatos que lideram as pesquisas à Presidência têm a mesma tática para enfrentar os eventuais efeitos da Copa do Mundo sobre a eleição: vão jogar na retranca, sem correr riscos, lançando mão de um "ufanismo acanhado".
As manifestações comedidas e discretas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) a respeito do desempenho da seleção brasileira não têm nada da espontaneidade que porventura possam sugerir.
Nos comitês dos candidatos, onde a repercussão eleitoral de um possível tetra é tema de debate sério, a avaliação geral é de que não há espaço para faturar votos às custas do time de Parreira.
Em caso de vitória, nada indica que vá se reproduzir nessa eleição aquele clima de ufanismo desabrido patrocinado em 1970 pelo governo do general Garrastazu Médici, quando se instrumentalizou o tricampeonato para fazer a apologia do regime militar.
Ninguém acredita, nem mesmo no núcleo das pessoas mais próximas a FHC, candidato apoiado pelo governo, que o presidente Itamar Franco tenha condições ou mesmo deva se assenhorear de um possível êxito do Brasil, tal como se ocorreu na Copa de 70.
Isso pela razão básica de que numa democracia a manipulação dos símbolos nacionais e o poder de persuasão dos governantes sobre a sociedade estão sujeitos a críticas e reações que o regime militar abafou pelo uso da força.
Fernando Collor de Mello é o exemplo mais recente de manipulação desastrada dos símbolos nacionais. Que se lembre, por exemplo, sua convocação para que a população fosse às ruas vestida de verde e amarelo, durante o processo de impeachment. Deu preto.
Medos simétricos
Nos bastidores da campanha tucana, preocupados com as críticas que o PT possa fazer por um suposto uso político da vitória na Copa, todos têm pronta a resposta.
"O Fernando não vai faturar nada em cima do futebol", afirma o economista tucano e ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, coordenador financeiro da campanha.
"Se a Copa for ganha, será uma beleza, mas a nossa vitória será o êxito do plano, com a entrada do real em cena", completa.
No PT, a preocupação é simétrica. Os petistas querem evitar que a euforia da Copa se confunda com a impantação do real.
Eles temem que Lula seja vendido à população pelos adversários como o candidato da derrota, do "quanto pior, tanto melhor".
"A Copa é um fato cultural, pré-político e é importante que o Brasil ganhe para que as pessoas recuperem a crença de que as coisas podem dar certo", diz Gilberto Carvalho, secretário-geral do PT, recém-nomeado coordenador de mobilização da campanha de Lula.
A seguir, faz a ressalva: "Toda vez que se mistura política e futebol, o resultado é muito ruim. Quem se aventurar a tirar proveito da Copa, vai quebrar a cara".

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