São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994 |
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Planejamento familiar é inexistente no país
GILBERTO DIMENSTEIN E DANIELA PINHEIRO
O Ministério da Saúde calcula que ocorram por ano até 2 milhões de abortos clandestinos. Só em 94, o ministério deve gastar US$ 2,8 milhões em internações por sequelas de abortos. Em contrapartida, o programa de distribuição de contraceptivos à população vai custar ao governo US$ 250 mil. O governo estima que são feitos por ano entre 800 mil e 2 milhões de abortos no país. Os números são imprecisos pois os abortos são clandestinos. O cálculo é feito com base nas internações registradas no SUS por complicações clínicas resultantes de gravidez interrompida. No ano passado, foram atendidos em hospitais públicos 350 mil casos de abortos espontâneos (não-provocado). Pesquisa do AGI (Alan Guttmacher Institute), dos Estados Unidos, diz que 73% das mulheres latino-americanas de áreas rurais usam métodos violentos para interromper a gravidez. Os mais comuns são a inserção de galhos, varetas e pedaços de arame no útero. A consequência dessa prática é o aumento da taxa de mortalidade materna. A estimativa é de que 10% a 20% das mortes maternas estejam ligadas ao aborto. O Ministério da Saúde calcula que cerca de 1.500 mulheres morrem todo ano vítimas de aborto. Consideradas as dificuldades de gestação e parto, esse número chega a 5.000. "Enquanto não houver uma política agressiva de incentivo ao planejamento familiar, os casos de abortos clandestinos e esterilizações serão sempre crescentes", disse o ministro da Saúde, Henrique Santillo. A dificuldade para se implantar o programa de planejamento familiar é atribuída à desorganização e falta de empenho político nos Estados. Nos últimos 12 meses, o governo distribuiu 1.410 cartelas de anticoncepcionais, 2,8 milhões de preservativos e 116 mil tubos de espermicidas. Foram comprados ainda 70 mil DIUs (Dispositivos Intra-Uterinos) e 20 mil diafragmas. O lote de contraceptivos atendeu a menos de 10% do contigente feminino previsto no programa. Em todo o país, apenas 300 unidades de saúde distribuem contraceptivos e oferecem programa de planejamento familiar à população. O Ministério da Saúde não tem controle sobre a distribuição. Texto Anterior: Crescimento demográfico cai a 1,6% Próximo Texto: OS CANDIDATOS E O PLANEJAMENTO FAMILIAR Índice |
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