São Paulo, domingo, 26 de junho de 1994
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'Meu sonho ainda é a seleção brasileira'

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Lupércio Lima diz que não quer sair da Casa de Detenção de São Paulo porque não tem família, não tem dinheiro e seus grandes amigos estão lá dentro, e não nas ruas. "Conheço todo mundo na cadeia", diz Lupércio, chamado pelos detentos mais perigosos, carinhosamente, de "o mala".
Lupércio diz que hoje seu maior sonho seria acompanhar um time oficial, porque acredita que suas mãos trêmulas ainda possam "prestar serviços ao país". Mas também não se arrepende de nada que fez, porque uma das "delícias" de sua vida, revela, sempre foi "fumar e vender os cigarrinhos que levam a gente para a Lua". O massagista só se comunica usando termos hoje sepultados pela malandragem. Seu código de comportamento é o dos malandros românticos dos anos 50. Tanto que, quando se refere à seleção brasileira na Copa 94, gosta de empregar um termo que ouviu da boca do dramaturgo Nelson Rodrigues. "A vitória do Brasil em 94 é algo óbvio ululante", proclama.
Ele cumpre hoje pena de sete anos por tráfico de maconha. Diz que jamais conseguiu viver sem a droga, e diz que se orgulha "por jamais ter vendido um parango para um menor de idade". Ele dispõe de uma antologia de flagrantes que sofreu em todos esses anos, e ressalta a mais caricatural.
"Eu estava andando na avenida São João, com uns 22 parangos de maconha no bolso, cada um representando um jogador da seleção. Aí um cavalo da Força Pública estava com fome. Eu fugi dele", lembra. "Mas parece que o cavalo andava de galochas, e veio de fininho em cima de mim, com o oficial montado em cima dele. O bicho estava com fome, eu trazia a maconha entre as pernas e ele sentiu o cheiro do mato. O cavalo começou `br, brr', aí os policiais disseram `Lupércio, você tem algo entre as pernas, mostra tudo'. Aí eu fui preso só porque o cavalo estava morrendo de fome".

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